São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2010

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Exportações ajudam na recuperação alemã

Por JACK EWING

FRANKFURT - A Glasbau Hahn poderia facilmente ser confundida com uma oficina mecânica ou loja de materiais hidráulicos, do tipo que caracteriza um antigo distrito industrial situado a poucos quilômetros da região dos bancos em Frankfurt.
Mas a empresa familiar de fabricação de vidro, com 140 funcionários, é típica das companhias pequenas e altamente especializadas que podem impelir a Alemanha de volta ao crescimento.
O paradoxo é que empresas como ela estão dificultando a vida dos parceiros da Alemanha na União Europeia.
A Glasbau Hahn é uma multinacional em miniatura que gera mais de 60% de suas vendas no exterior e domina seu nicho estreito, porém lucrativo: o mercado global de vitrines de exposição em museus. Até mesmo a múmia do faraó Tutancâmon ocupa um gabinete de vidro aclimatizado produzido na oficina da Glasbau Hahn.
No momento em que esse e milhares de outros pequenos exportadores alemães se recuperam de um 2009 deprimente, eles proporcionam à UE uma dose de crescimento extremamente necessária. Infelizmente, porém, parte de seu sucesso se dá às expensas de países como Grécia, Espanha e Portugal.
Os chamados países periféricos incorreram em dívidas esmagadoras, em parte porque importaram bens demais da Alemanha e outros países, sem produzir bens de exportação suficientes. Os produtos de Grécia, Espanha e Portugal em muitos casos deixaram de ser competitivos porque, na última década, esses países deixaram os salários subirem mais que a produtividade, o que encareceu seus produtos.
Ao mesmo tempo, a Alemanha, um país de poupadores, exportava mais do que consumia, lucrando com seus vizinhos gastadores mas não importando o mesmo volume deles. "Essas bolhas que vêm crescendo nas margens são um reflexo exato do superavit produzido pela Alemanha", disse Erik Berglof, economista-chefe do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, em Londres.
O superavit comercial da Alemanha é de longe o maior da Europa: chegou a 135,8 bilhões de euros (US$ 184,9 bilhões) em 2009, segundo a Eurostat, o escritório de estatísticas da UE.
Os países de maior deficit comercial são também os que estão enfrentando os maiores problemas econômicos: Reino Unido, Espanha, Grécia e Portugal. Apenas a França, que também faz parte dos cinco países europeus com maior deficit, tem uma economia relativamente saudável.
O caso da Glasbau Hahn ajuda a explicar por que a Alemanha é tão competitiva. A empresa e outras semelhantes a ela às vezes são descritas como campeãs ocultas. Elas aprenderam a expandir-se no exterior para compensar pelo crescimento doméstico lento. E, para contrabalançar o alto custo da mão de obra na Alemanha, se concentram na fabricação de produtos de alto padrão. "Nunca somos a opção mais barata", disse Till Hahn, líder atual da família que é dona da empresa e a administra desde 1836.
A reputação da empresa e a qualidade de seus produtos a ajudaram a derrotar concorrentes na Itália e Bélgica, do mesmo modo como outras empresas alemãs vêm derrotando suas rivais europeias. O problema que os políticos procuram resolver é como corrigir os desequilíbrios econômicos gerados pela competitividade alemã.
Não faz sentido a Alemanha exportar menos. "Como se pode dizer às empresas alemãs que elas não deveriam ser vencedoras?", perguntou Tommaso Padoa-Schioppa, ex-membro do conselho executivo do Banco Central Europeu e hoje presidente para a Europa da consultoria Promontory Financial Group.
Em última análise, cabe aos países mais fracos corrigir o desequilíbrio entre salários e produtividade. Para Padoa-Schioppa, "esse desnível precisa ser corrigido, como fez a Alemanha na última década".


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