São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2010

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Arte de rua ocupa espaço nobre em NY

Por JOHN STRAUSBAUGH

Para a atual exposição comemorativa do quinto aniversário de sua galeria em Nova York, Jonathan LeVine encheu o espaço com obras de 35 artistas, a maioria dos quais ele representa. O espaço fica na seção Chelsea de Manhattan, mas não há conceitualismo cerebral, abstração fria ou gestualismo artístico expostos.
Em lugar disso, esses trabalhos -rotulados às vezes de arte inculta, surrealismo pop ou, na descrição talvez mais precisa, pluralismo pop- são os "parentes" skatistas, grafiteiros, às vezes irreverentes da arte exposta na maioria dos outros espaços do bairro. Mesmo assim, a arte na Galeria Jonathan LeVine aparenta estar em casa em Chelsea, de uma maneira que não acontecia cinco anos atrás. Após anos ocupando as margens do mundo artístico, "chegamos a um momento de virada", disse LeVine. "O pensamento prevalecente está aderindo a esses trabalhos."
Muitos artistas representados na exposição têm formação em belas-artes. Mas seus corações e cabeças pertencem ao punk rock e ao hip-hop, a "Guerra nas Estrelas" e "Star Trek", a cartuns e tatuagens. O trabalho deles em geral é figurativo e, com frequência, narrativo. Robôs gigantes percorrem as paisagens de Jeff Soto, pintadas com spray. A estátua de 2 m de altura de Scott Musgrove retrata um ser imaginário, que lembra algo saído de um gibi. As pinturas de Kathy Staico Schorr deixam bruxas do Halloween, palhaços e Popeye ilhados no meio de ambientes surrealistas ameaçadores.
Nos últimos dez anos, o gênero foi encontrando aceitação no mundo das artes. Hoje, marchands influentes representam alguns dos artistas, cuja obra é exposta por instituições que vão do Museu de Arte Moderna de Nova York e do Whitney à Fondation Cartier, em Paris. E marqueteiros de empresas fazem fila para recrutar o apoio dos artistas na divulgação de suas marcas.
Apesar desses sucessos, porém, os artistas ainda tendem a descrever seu trabalho em termos antielitistas. "Este movimento, ou seja lá o que [ele] for, é muito operário, de certa forma", disse Soto, 35.
Os primeiros artistas que o inspiraram "desenhavam as pranchas de skate que eu via no final dos anos 1980", disse. "Eram caras que trabalhavam para estúdios, tentando criar imagens bacanas." Soto vê a atração exercida por sua própria arte e por outros trabalhos representados na exposição na galeria LeVine como sendo em grande medida devida à facilidade de sua compreensão. "As pessoas que curtem belas-artes podem curtir isso, mas também [curtirá] quem não sabe nada sobre arte mais intelectualizada, porque o que fazemos conta uma história interessante de se olhar."
O gênero tem suas raízes na costa oeste americana dos anos 1960, onde Robert Williams -hoje, aos 67 anos, o decano do movimento- criou ilustrações de carros "hot rod", pôsters de rock psicodélicos e gibis underground. Esse pano de fundo de imagens contraculturais populares continua evidente em suas pinturas bizarras de acidentes com "hot rods" e sereias de minissaia em paisagens psicodélicas, que ele começou no final dos anos 1970 a descrever como Arte Inculta.
O termo celebra o que ele chama de "a vulgaridade de quem não está nem aí" de seu trabalho e do contraste formado com "as coisas esnobes" de boa parte da arte culta da época.
Mas, à medida que o gênero foi sendo transmitido a uma geração que se inspira em um espectro mais amplo de iconografia pop, o rótulo Inculta acabou caindo em desuso. "É restritivo demais", disse LeVine. "Esses trabalhos hoje são diversificados demais para isso."
Vários dos integrantes de sua exposição começaram como artistas. Shepard Fairey, por exemplo, juntou sua formação na Escola de Design de Rhode Island com suas experiências nas culturas do grafite e do skate para criar uma série largamente vista de adesivos e pôsters no início dos anos 1990. Uma das mais onipresentes mostrava o lutador Andre the Giant sobre a legenda "Obey", fazendo referência ao filme de ficção científica "Eles Vivem". Durante a campanha presidencial de 2008 nos EUA, essa imagem se metamorfoseou na famosa imagem criada por Fairey de Barack Obama sobre a palava "Esperança", que hoje faz parte do acervo permanente da National Portrait Gallery. O pôster de Obama também é alvo de ação judicial movida contra Fairey pela agência Associated Press, porque, segundo a ação, o artista baseou o poster sobre uma foto da AP, sem a autorização da agência.
Fairey, 40, está fazendo uma mostra solo no Centro de Artes Contemporâneas, em Cincinnati, e no passado teve outra no Instituto de Arte Contemporânea de Boston.
Deitch, o proprietário do Centro, vai se tornar diretor do Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles e também representa artistas de rua. "O pessoal do establishment do mundo da arte está começando a captar o que fazemos", disse ele. "Mas ainda não faz ideia das dimensões alcançadas pela arte de rua."


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