São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2011

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Estagiários de banco 'sofrem' com a crise

Por KEVIN ROOSE
Nos bons tempos, os estagiários universitários dos maiores bancos de investimentos dos EUA, conhecidos como "analistas de verão", eram tratados como reis. Mas o encolhimento nos lucros e a onda de demissões forçaram os estagiários deste ano a assumir cargas integrais de trabalho.
"Trabalhei 85 horas na semana passada!", disse uma analista de verão do Goldman Sachs, uma ultimanista universitária que falou sob anonimato por não estar autorizada a dar entrevistas.
"Nos últimos dois dias, estive aqui até as 3h", afirmou um analista de verão do Deutsche Bank, que também falou sob anonimato para proteger o seu emprego. "Meus fins de semana são divertidos, mas isso é tudo."
Embora o trabalho árduo seja rotina para os jovens profissionais do setor financeiro, os benefícios costumavam tornar as longas jornadas mais palatáveis. Em 2006, estagiários do JPMorgan Chase foram em limusines Hummer bancadas pela empresa à boate nova-iorquina Butter, onde todos se divertiram até se recolherem a esnobes suítes do Hudson Hotel, segundo uma pessoa que estava presente. No ano seguinte, o Lehman Brothers levou seus estagiários para um show com OK Go e The Fray em uma praia.
Essas extravagâncias acabaram, vitimadas por cortes orçamentários e por uma maior sensibilidade dos bancos, cuja reputação foi abalada durante a crise financeira.
Mas muitos analistas de verão em grandes bancos de Nova York ainda recebem smartphones, laptops e cartões de crédito corporativos. Eles foram direcionados para divisões dentro do banco, e alguns entraram em rodízios que os expõem a diferentes áreas da empresa. Muitos participaram de oficinas onde aprenderam conceitos básicos de contabilidade, atalhos do Excel e fundamentos da avaliação empresarial.
"Eles são tratados como analistas e associados", disse Scott Rostan, o fundador da Training The Street, uma empresa que comanda "workshops" para novos profissionais de finanças.
Com menos empregados em tempo integral, sobra mais trabalho para os estagiários. UBS, Credit Suisse, Goldman Sachs e Morgan Stanley realizaram demissões neste ano.
"Os diretores-gerentes estão dizendo aos estagiários: 'Vamos precisar que vocês cresçam'", disse uma recrutadora de banco, que falou anonimamente por não estar autorizada a dar entrevistas à imprensa.
Alguns bancos contrataram mais estagiários neste ano. O JPMorgan Chase aumentou suas vagas de 1.250 para 1.500 em todo o país, segundo sua assessoria de imprensa. E a demanda por estágios, que havia minguado durante a crise financeira, voltou a todo vapor.
Os estagiários de Wall Street são recompensados por suas longas jornadas. Os analistas de verão ganham um salário proporcional ao de analistas em seu primeiro ano de trabalho.
No Goldman Sachs, por exemplo, isso se traduz em uma remuneração de US$ 15 mil por um estágio de dez semanas, o que inclui um auxílio-moradia de US$ 2.000, segundo um estagiário atual. Os analistas de verão na BlackRock, firma de gestão de capitais em Manhattan, ganham um salário de US$ 33 por hora, com 50% de acréscimo para o que superar 40 horas semanais, segundo uma porta-voz da empresa.
Mas, para a maioria dos estagiários, o verdadeiro prêmio é uma oferta de emprego no final do verão. Os bancos de investimentos preenchem suas vagas de tempo integral com ex-estagiários, e a pressão para estabelecer uma lealdade ao longo das dez semanas do verão é palpável. Neste ano, os estagiários do Goldman Sachs estão ouvindo palestras de executivos como David Viniar, seu diretor financeiro, e Gary Cohn, o presidente.
"É uma dança delicada", disse Geoff Robinson, diretor para bancos de investimentos da empresa de treinamento 7city Learning. "Os bancos os estão avaliando, e essa garotada está avaliando o que os bancos estão fazendo."


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