São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

DIÁRIO JILI

Aldeia que vestia imperadores vê ocaso da seda

Êxodo de jovens faz Jili perder uma técnica rural

Por EDWARD WONG

JILI, China - Poucos produtos são tão associados à China quanto a seda. E, durante algum tempo, nenhum nome era tão sinônimo de seda de qualidade quanto Jili.
Mas, como muitos habitantes rurais de toda a China, os jovens deste pedaço da província de Zhejiang têm migrado para as cidades atrás de empregos. Só seus pais permanecem para preservar a tradição da sericicultura ou cultivo do bicho da seda.
Na dinastia Qing, a seda de Jili era usada para produzir as roupas do imperador e da sua corte, em Pequim. Agora, só resta uma fábrica decadente na região.
"Todo mundo sabe fazer isso", disse Wang Yisi, morador da aldeia, sobre a produção da seda. "Quando você é criança, vê os adultos fazendo. Mas, em poucos anos, ninguém vai saber fazer."
Como alguns outros moradores, Wang disse que não criou bichos da seda na última primavera, porque, no ano passado, a venda dos casulos não rendeu muito dinheiro para eles. Como os aldeões não produzem mais os fios, sua única renda nessa atividade vem da venda dos casulos.
A aldeia começou a produzir seda de alta qualidade no final da dinastia Yuan, no século 14, pois o clima e a água de Jili eram ideais para a sericicultura, segundo Lu Shihu, um historiador local. O setor atingiu o seu apogeu após o final da Primeira Guerra do Ópio, em 1842. Durante aquilo que os chineses chamam de "Tratados Desiguais", nações estrangeiras adquiriram concessões comerciais em Xangai e outras cidades, e empresas de fora do país puderam então exportar a seda de Jili.
A província de Zhejiang está associada ao começo da produção de seda no mundo, segundo o acervo do Museu da Seda de Suzhou. Nas ruínas neolíticas de Zhejiang, arqueólogos encontraram um utensílio com imagens de bichos da seda, de 4000 a.C..
A partir do século 3 a.C., o tecido chegou à Europa através de várias Rotas da Seda. Os governantes chineses tanto se empenharam em manter em segredo sua fabricação que os mercadores ocidentais achavam que a seda crescia em árvores, até que bichos da seda foram contrabandeados para Constantinopla. A região de Suzhou foi o centro da produção de seda nas dinastias Tang e Song.
Com a abertura de Xangai às empresas estrangeiras, os estabelecimentos de comércio de seda ligados a quatro famílias se tornaram dominantes na região. Sua riqueza combinada supostamente equivalia à arrecadação tributária de um ano inteiro da dinastia Qing em toda a China.
O declínio da produção local veio com a industrialização. Os teares manuais de Jili não puderam competir com as máquinas introduzidas nas fábricas no século 20. O setor parou de vez quando os japoneses ocuparam esta parte da China na Segunda Guerra Mundial, e quando os comunistas chineses promoveram a industrialização em massa de todo o país após 1949.
A degradação ambiental de Jili, onde fábricas poluíram a água crucial para a sericicultura, também contribuiu com o declínio.
Agora, os jovens de Jili descobriram que podem ganhar mais trabalhando nas cidades. O aldeão Wang disse que a indústria só poderia ser salva com subsídios governamentais. "Temos a melhor seda aqui", afirmou. "É melhor do que em qualquer outro lugar. Esta é a autêntica seda. O governo deveria proteger isso."
Os moradores vendem os casulos a intermediários, que os repassam às fábricas. Se os aldeões conseguem vendê-los a pelo menos US$ 240 por lote de 50 kg, o mês de trabalho vale a pena, segundo Wang. Mas a demanda pelos casulos despencou.
Na fábrica perto dali, por trás de portões enferrujados, 40 trabalhadores operam as máquinas que transformam os casulos em fios de seda. Mas a produção anual, de 27 toneladas, é relativamente pequena. O gerente Shen Yuxi disse que o governo deu as costas à indústria local porque está estimulando a produção de seda no oeste da China, a fim de desenvolver a economia de lá.
"Em seu auge", disse Shen, "a seda era tecida a mão, e toda a região fazia isso". "Nessa época, a seda de Jili tinha um nome, era importante. Agora, isso é só história."


Colaborou Xiyun Yang, de Pequim


Texto Anterior: Riqueza tem 27 andares na Índia
Próximo Texto: Dinheiro & Negócios
Como os imigrantes geram mais empregos

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.