São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

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Riqueza tem 27 andares na Índia

Por JIM YARDLEY

MUMBAI - A mais nova e exclusiva torre residencial para os super-ricos desta cidade é uma estrutura de aço e vidro com 27 andares. Só o estacionamento ocupa seis. No teto, há três heliportos. São nove elevadores, um spa, um teatro de 50 lugares e um grande salão de bailes. Centenas de empregados e funcionários deverão trabalhar lá dentro. E agora, finalmente, depois de vários anos de planejamento e construção, os moradores vão se mudar. Todos os cinco.
A torre, conhecida como Antilia, é o novo lar da pessoa mais rica da Índia, Mukesh Ambani, cuja fortuna de US$ 27 bilhões também o classifica entre os mais ricos do mundo. E, mesmo aqui no centro do capital financeiro, cujos moradores testemunham diariamente os extremos da riqueza e da pobreza indianas, o edifício de Ambani é tão espetacular que os limites já elásticos de excesso e disparidade desta cidade estão sendo levados a novas dimensões.
"Apenas uma família vai morar aí?", questionou Prahlad Kakkar, cineasta de publicidade e conhecido morador de Mumbai. "Ou é um monumento, ou é um símbolo, ou é Mammon." Ele acrescentou: "É, ao mesmo tempo, um choque e um espanto".
Ambani, sua mulher, Nita, e seus três filhos deverão se mudar para o prédio depois de uma festa de inauguração para 200 convidados em 28 de novembro. Ambani se recusou a comentar o projeto e exigiu que seus arquitetos, decoradores e empreiteiros assinassem contratos de confidencialidade.
Mas alguns detalhes vazaram. Reportagens estimaram o espaço residencial total em 37 mil metros quadrados, embora pessoas próximas ao projeto digam que o número real são humildes 5.500 metros quadrados. Outras reportagens também calcularam o valor do edifício em US$ 1 bilhão, número negado por pessoas ligadas ao projeto.
Seja como for, a cidade espantada recebeu a nova torre com uma mistura de moralismo e incredulidade, inveja e condenação, salpicados de análise freudiana da questão mais básica: por que ele fez isso?
"Estamos todos meio perplexos", disse Alyque Padamsee, um antigo executivo de publicidade e ator da cidade.
Há décadas, a família Ambani tem sido a mais famosa novela corporativa da Índia. O pai, Dhirubhai Ambani, foi um ousado magnata que saiu do nada e fundou a Reliance Industries depois de sair dos cortiços da cidade. A Reliance é a maior produtora mundial de fibras e fios de poliéster e responde por quase 15% das exportações da Índia.
Os dois filhos, Mukesh e Anil, herdaram e dividiram o império e passaram anos brigando, incluindo uma recente disputa sobre direitos de gás natural que causou uma reprimenda do primeiro-ministro antes que a Suprema Corte da Índia decidisse o caso a favor de Mukesh.
A nova torre se situa na Altamount Road, rua residencial arborizada no sul de Mumbai onde o pai de Mukesh comprou sua primeira casa depois de sair da pobreza. Mais tarde, adquiriu um prédio de apartamentos de 14 andares chamado Sea Wind, onde Mukesh e Anil moraram com suas famílias em andares diferentes. Agora, Mukesh vai se mudar para uma torre que faz a Sea Wind parecer uma casa de hóspedes.
"É uma espécie de retorno vingativo para onde eles chegaram à classe média e venceram todo mundo", disse Hamish McDonald, que fez a crônica da história familiar em seu livro "Mahabharata in Polyester: The Making of the World's Richest Brothers and Their Feud" (mahabharata em poliéster: a ascensão dos irmãos mais ricos do mundo e sua disputa).
"Ele está mais ou menos dizendo: 'Sou rico e não me importa o que você pense'", disse.
Mumbai, antes conhecida como Bombaim, é a cidade mais cosmopolita da Índia, com aproximadamente 20 milhões de pessoas na área metropolitana. Migrantes afluíram na última década atraídos pela reputação de "cidade dos sonhos". Mas Mumbai também é famosa por seus pobres: um estudo recente descobriu que cerca de 62% dos habitantes vivem em favelas, incluindo uma das maiores da Ásia, Dharavi, que abriga mais de 1 milhão de pessoas.
Os preços dos imóveis estão entre os mais altos do mundo, empurrando muitos trabalhadores para as favelas, enquanto as empreiteiras abrem terrenos para uma nova geração de torres para os afluentes.
Os arranha-céus são considerados necessários, diante da área limitada da cidade, mas as altas torres isolaram ainda mais os ricos da metrópole abaixo.
Ao longo da Altamount Road, a reação ao novo vizinho é mista. Sushala Pawar se esforça para compreender a diferença entre a vida de Ambani e a sua própria.
Ela é cozinheira de uma família em um apartamento próximo, ganha 4.000 rupias por mês, cerca de US$ 90. Dorme no chão do corredor depois que a família vai dormir.
"Sou um ser humano", ela afirmou. "E Mukesh Ambani é um ser humano. Às vezes, não me sinto bem por viver com 4.000 rupias, e Mukesh Ambani morar ali." Mas, então, fazendo um sinal de cabeça na direção do prédio, disse: "Talvez eu consiga um emprego lá".


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