São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

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Produtores de vinho redescobrem o koshu

Por CORIE BROWN

KOSHU, Japão - Os japoneses produzem vinho há anos, mas ninguém fora do Japão quer bebê-lo, ainda mais se for doce preparado a partir de uma uva nativa chamada koshu.
Mas Ernest Singer pensa que o koshu merece um lugar entre os vinhos brancos mais finos do mundo. Singer, um importador de vinho em Tóquio, disse que o koshu, há cerca de uma década, chamou sua atenção quando experimentou uma dose.
Inspirador e revigorante com gosto cítrico misterioso, um verdadeiro tesouro da cozinha japonesa, como ele classificou, e que pode ser o primeiro vinho asiático a ter reconhecimento internacional.
Com uvas de cultivadores locais e jeito de fazer francês, começou a produzir seu próprio vinho, com o objetivo de ajudar o koshu a atingir seu potencial. Agora, ele e outros produtores, também japoneses, estão correndo para que sejam os primeiros a produzir koshu com qualidade suficiente para obter sucesso no mercado internacional.
"Nós mostramos que é possível fazer vinho no Japão", afirmou Singer. A dúvida fica por conta se os produtores de vinho conhecidos vão mudar a prática de produção ou "continuarão a vender bebida de qualidade inferior".
Até mesmo seu rival, Shigekazu Misawa, proprietário da Grace Wine e líder do koshu japonês, disse que sem Singer seria improvável que alguém pensasse em exportar o vinho koshu. "Foi ideia do Ernie aumentar a qualidade para melhorar a posição do koshu no mercado mundial", disse. "Ele sabia que o koshu poderia se tornar o vinho representante do Japão no mundo".
Encontrada quase exclusivamente em Yamanashi, que fica na base do Monte Fuji, a fruta koshu, de cor cinza, tem sabor azedo. Os cultivadores aconselhavam os produtores a adicionar doses exageradas de açúcar à bebida para suavizar a característica azeda. Misawa foi um dos primeiros japoneses a rejeitar essa ideia de adocicar o koshu.
"O koshu chega a quase 70% do vinho que produzimos", disse. "E precisamos fazer dele uma bebida ainda melhor".
Após experimentar o koshu seco, Singer apostou tudo nele, confiando a Denis Dubordieu, professor de enologia da Universidade de Bordeaux, o trabalho de melhorar as uvas da vinícula de Misawa durante as primeiras quatro safras (2004 a 2007).
A confiança de Singer no koshu se deve ao crítico de vinhos Robert M. Parker Jr. Os dois trabalham juntos desde 1998 quando Parker contratou Singer para ser seu representante na Ásia. Parker experimentou o koshu de Singer na vinícula Grace em dezembro de 2004 e deu a pontuação 87/88 em uma escala de zero a cem.
Na formulação do documento com as razões para a nota, Dubordieu eliminou o que era, certa vez, a única coisa que permitia ao koshu ser ingerível: açúcar. O vinho é seco com baixo teor alcoólico.
O produtor de Bordeaux Bernard Magrez está distribuindo algumas garrafas do koshu da vinícola de Katsunuma Jyozo na Europa e nos EUA. A garrafa custa de US$ 20 para cima. Mas o diretor-executivo da vinícola, Youki Hirayama, disse que sua companhia tem como foco a Ásia.
"Este é um vinho asiático que combina com a comida asiática", disse, notando que o sabor refinado não combina com todos os tipos de prato.
Parker continua otimista a respeito do koshu. "Até este ano, foi o melhor que eu já experimentei", escreveu em e-mail ao responder as questões sobre o vinho de Singer. "Agora Bernard Magreza tem um seco, refrescante e muito saboroso. Eu acho que o vinho, se feito nesse padrão, tem como característica ser sutil e muito refrescante".


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