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ENSAIO
Na hora de estresse, mantenha a mente aberta
GREGORY BERNS
Minha sensação é que o trabalho está
ficando cada vez mais semelhante a uma
caixa de Skinner.
Uma caixa de Skinner é uma câmara
condicionadora operante - em outras
palavras, uma gaiola
que treina um animal
de laboratório a fazer
associações automáticas
entre alavancas e luzes
piscantes, de um lado, e
recompensas e castigos, do outro. Ela
foi inventada na década de 1950 por B.F.
Skinner, um psicólogo experimental, para
estudar o aprendizado.
A luz verde pisca, ou o animal empurra
a alavanca certa, e então ele é recompensado
com um pedaço de alimento. Mas
algumas câmaras condicionadoras operantes
são feitas com pisos eletrificados.
Uma luz vermelha se acende, e zap! O camundongo
não demora muito a perceber
que luz se acende com o choque elétrico e
qual delas é associada ao alimento.
Todos os animais são bons em fazer essas
associações - até mesmo nós, primatas.
Não demora muito para nem sequer
precisarmos da luz: a simples visão de
caixa é capaz de levar alguns de nós a um
estado de apoplexia.
O local de trabalho não chega a ser
uma caixa eletrificada, mas acho que
preferiria um choque elétrico de curta
duração aos choques intermitentes
das quedas diárias nas bolsas ou das
sucessivas ondas de demissões nas empresas.
Todo o mundo está com medo. O medo
dos trabalhadores se generalizou para
seus locais de trabalho e para tudo o que
está relacionado ao dinheiro. Estamos
presos numa espiral em que temos tanto
pavor de perder nossos empregos e nossas
economias, e esse medo toma conta
de nossos cérebros. Embora seja um
instinto adaptativo e profundamente
arraigado de autopreservação, o medo
também impede que nos concentremos
em qualquer coisa senão salvar nossas
peles, em sair da caixa intactos.
Nada de bom pode sair desse tipo de
processo decisório. Justamente quando
mais precisamos de novas idéias, todo o
mundo está paralisado de medo, tentando
manter o que ainda resta.
Sou neuroeconomista, o que significa
que uso tecnologia de escaneamento
cerebral para decodificar o processo
decisório humano. Meus colegas e eu
fizemos um experimento com nossa
versão própria de uma caixa de Skinner.
Em vez de estarem numa caixa, os
participantes ficaram num aparelho de
ressonância magnética. Em vez de piso
eletrificado, prendemos eletrodos a seus
pés. Embora não fossem demasiado
dolorosos, a intenção era que os choques
fossem suficientemente desagradáveis
para que a pessoa preferisse evitá-los
por completo.
O ponto central do experimento era
que os sujeitos tinham que esperar pelos
choques. E, para muitas pessoas, a
espera era a pior parte. Quase um terço
tinha tanto meda da espera que preferia
receber um choque maior imediatamente
a aguardar um choque menor mais
tarde. Soa ilógico, mas o medo - seja
da dor ou de perder o emprego - exerce
efeitos estranhos sobre o processo decisório.
Algumas pessoas demonstraram
forte condicionamento pelo medo, evidenciado
pelo uso de recursos neurais
para enfrentar o choque iminente. A
maior parte dessa atividade ocorria nas
partes do cérebro que processam a dor.
Essa preocupação toda gastou energia,
de modo que essas pessoas que apresentaram
reações extremas tinham menos
poder de processamento neural disponível
para outras tarefas.
A neurociência nos diz que, quando o
sistema de medo do cérebro está ativo, a
atividade exploratória e a atividade de
tomada de riscos estão desligadas. Assim,
a primeira coisa que é preciso fazer
é neutralizar esse sistema.
Isso significa não disseminar o medo
entre as outras pessoas. Significa evitar
pessoas que são excessivamente pessimistas
em relação à economia. Significa
desligar a mídia que alimenta chamas
emocionais. Significa estar preparado,
mas não hipervigilante.
O que eu estou fazendo agora é procurar
novas oportunidades. Isso quer
dizer aplicar a neurociência a áreas em
que ela ainda não foi usada. Estou colaborando
com antropólogos para usar
imageamento cerebral para compreender
as raízes biológicas dos conflitos
políticos. Estou iniciando outro projeto
para usar o imageamento cerebral para
prever quais adolescentes têm a probabilidade
de fazer julgamentos fatalmente
ruins e, esperamos, treiná-los a tomar
decisões melhores.
Essa estratégia conserva ativo o sistema
exploratório de meu cérebro. Sim,
esses novos projetos encerram riscos
e alguns deles vão fracassar. Mas, enquanto
outros esperam a tempestade
passar, eu estou ocupado, estendendome
para novas áreas. Se eu esperar o
dinheiro começar a chegar outra vez, as
oportunidades terão passado.
O médico Gregory Berns dirige o Centro
de Neuropolítica da Universidade Emory
em Atlanta, Geórgia
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