São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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Rock alternativo num paraíso tropical

Por EVELYN MCDONNELL

MIAMI - Numa noite agradável de novembro em Miami, Rachel Goodrich estava tocando ao luar no pátio do Churchill’s Pub, diante de um público fascinado. O espaço decadente no bairro de Little Haiti estava repleto de fãs e outros músicos, que cantavam junto, acompanhando a voz clara de Goodrich enquanto ela conduzia sua banda pelo tipo de festa musical controlada que a converteu na rainha do cenário do rock independente de Miami.
Suas canções criadas artesanalmente se destacam numa cidade mais conhecida por seus ritmos dançantes e som bate-estaca, mas ela não é a única nessa área.
"Rachel tem tudo: a banda, o visual, o som", disse Nick Scapa, 25, músico local e um dos vários jovens empreendedores que estão tentando inserir Miami no mapa musical.
Graças a talentos como o de Goodrich, a reputação de Miami de ser zona morta em matéria de música ao vivo pode estar mudando. Uma onda de CDs de músicos locais, promovida por empresários locais e divulgada em turnês nacionais, se prepara para elevar o perfil da cidade. Rachel Goodrich lançou "Tinker Toys", seu charmoso álbum de estréia, por seu selo próprio, Yellow Bear, em outubro. O Rough Guide compilou os CDs independentes da banda de funk latino Spam Allstars, veterana do circuito de festivais internacionais. O pianista, bandleader e cantor-compositor Jacob Jeffries, 20, está gravando o disco final de uma trilogia. Gravadoras e editoras musicais estão começando a prestar atenção.
Miami "está se esforçando para criar um cenário musical independente", disse Barbara Cane, vice-presidente e gerente geral de relações entre compositores e editores na BMI, que está trabalhando com Jeffries.
O cenário musical indie também está ganhando um reforço da reputação crescente do cenário de artes visuais da cidade. "Tenho fé em que, com o tempo, o respeito internacional dado às artes acabará chegando à da música", disse Michael-John Hancock, vocalista da banda de rock ANR.
Talvez não pareça surpreendente que uma área metropolitana do tamanho do sul da Flórida tenha um cenário rock florescente. Mas Miami nunca foi uma cidade americana típica; como diz o chiste local, "a cidade é linda - fica tão perto dos EUA!". Miami tem inúmeras discotecas, mas muito poucos estabelecimentos com música local ao vivo. O isolamento físico da cidade cria obstáculos às bandas. Miami fica a 11 horas de carro de Atlanta, a meca musical mais próxima. "Geograficamente falando, é um esforço sair do sul da Flórida", comentou Jeffries.
E a natureza transitória de uma cidade repleta de turistas e imigrantes fomenta uma vida noturna que gira em torno das festas. A música feita por DJs nos clubes locais é fortemente movida pelo ritmo: hip-hop, techno, trance. Até pouco tempo atrás, a principal válvula de escape para a turma alternativa era o gênero eletrônico experimental conhecido como música dance inteligente.
Felizmente para os fãs do rock em Miami, existe o Churchill’s. Em 1979, David Daniels, veterano expatriado do cenário soul do norte da Inglaterra, fundou esse clube de interior escuro e um tanto sujo. Daniels aluga o espaço adjacente à Sweat Records, loja e café cuja proprietária, Lauren Reskin, é uma fonte fértil de informações sobre o cenário artístico e musical local.
"Tudo acontece no Churchill’s", disse Rachel Goodrich. "O lugar é tão real. Ele é velho, mágico e cheio de segredos."
Goodrich está ansiosa para pôr o pé na estrada e ver o mundo, mas ela sempre quer voltar para casa, para curtir o ambiente de uma metrópole que ainda está evoluindo rapidamente.
"Amo estar aqui", diz ela. "O clima fora de casa é de tanta liberdade. Curto o céu azul e a chuva. Vou à praia. As cores aqui são lindas. E os personagens que a gente vê. Há um vaivém constante de gente."


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