São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

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JANE FONDA

De volta ao palco, com muitas vidas para trás

Por CHARLES McGRATH


"Sinto que agora poderia ser realmente melhor do que jamais fui na atuação. É como algo que eu houvesse deixado prematuramente"

Jane Fonda, é difícil acreditar, tem 71 anos. Enquanto o resto de nós mal consegue ter uma vida, ela teve meia dúzia. Foi símbolo sexual, modelo, manifestante pacifista radical, estrela ganhadora do Oscar, empresária do ramo da atividade física e esposa de bilionário.
Sua história conjugal já bastaria para fazer dela uma espécie de precursora cultural. Seu primeiro marido, o cineasta francês Roger Vadim, a introduziu ao sexo grupal; ela fez sexo com seu segundo marido, o ativista Tom Hayden, depois que ele mostrou a ela alguns slides de camponeses vietnamitas (era um tempo em que as preliminares eram levadas a sério); e seu terceiro marido, o magnata da mídia Ted Turner, disse a ela no primeiro encontro: "Tenho amigos que são comunistas".
Hoje em dia, Fonda tem revisitado uma antiga encarnação sua, a de atriz da Broadway. Quase 50 anos depois de atuar ali pela última vez, em "Strange Interlude", com Geraldine Page, Fonda agora estrela "33 Variations", escrita e dirigida por Moisés Kaufman.
Ela parece ótima. Instalou um novo quadril e há alguns anos retirou os implantes dos seios. Mas ainda é aprumada e glamourosa; mantém a voz aveludada, e a idade salientou sua estrutura óssea. Se não é mais a endiabrada moça de bochechas gorduchas vista em "Barbarella" e "Klute - O Passado Condena", Fonda finalmente alcançou um tipo de elegância hepburniana. Agora ela até se parece um pouco com o pai.
Aliás, ela contou recentemente que anda pensando muito em Henry Fonda. "Estou ficando obcecada com a presença dele na minha cabeça, porque meu pai adorava o teatro", disse. "Ele não falava muito, mas falava sobre como amava o imediatismo de uma plateia ao vivo. Eu nunca me sentia bastante confortável em minha própria pele há 45 anos para conseguir entender isso. Eu só queria fugir. E agora é como 'Ah, papai, eu queria que você estivesse aqui, vivo, para que eu pudesse lhe dizer: entendi! Finalmente consigo experimentar aquilo de que você falava'."
No começo da década de 1990, após se casar com Ted Turner, Fonda anunciou oficialmente sua aposentadoria. Mas em 2005 retomou a carreira cinematográfica com "A Sogra", em que interpretava com grande satisfação uma versão pesadelo de Jane Fonda; uma estrela de TV que passou por quatro maridos, enlouqueceu e não consegue aceitar a velhice.
Ela tem mais dois filmes em preparação, mas enquanto isso, quando "33 Variations" apareceu, ela abraçou a chance de voltar ao palco.
"Não sou a mesma pessoa que era", disse. "Sou realmente uma pessoa diferente. E agora sinto que eu poderia ser realmente melhor do que jamais fui na atuação. É como algo que eu houvesse deixado prematuramente. Eu não completei e queria ver se eu conseguiria encontrar alegria nisso outra vez."
Fonda se sente uma pessoa diferente em grande parte porque está sempre trabalhando a si mesma. Conforme documenta em "My Life So Far", sua autobiografia de 2005, ela precisou elaborar uma assustadora lista de problemas: uma infância desastrosa (sua mãe, Frances Seymour, cortou a garganta quando Fonda tinha 12 anos; seu pai era notoriamente frio e distante), anorexia, bulimia, insegurança sexual, pânico do palco, medo da intimidade, necessidade excessiva de agradar e mais de uma crise da meia-idade.
Tornou-se feminista, ambientalista, estudante do estilo de vida zen, cristã praticante e, mais recentemente, blogueira.
"Variations" trata de uma mulher que, sob muitos aspectos, é o contrário de Fonda -alguém que acabou e está desconectada de si mesma. Fonda interpreta Katherine Brandt, uma musicóloga vitimada pela esclerose lateral amiotrófica. Distante e controladora, Katherine tem uma relação difícil com a filha, Clara.
A peça, contou Fonda, eventualmente a deixou dolorosamente ciente, por um lado, de como seu pai foi reservado, e, por outro, de sua relação às vezes complicada com Vanessa, sua filha com Roger Vadim.
Rindo, ela mencionou que um amigo lhe havia arranjado um encontro às cegas para a semana seguinte. "Mas isso não é algo em que eu pense muito", disse ela. "Nem sinto falta, francamente."
E prossegue: "Eu me sinto com 71 anos. Sinto. Estou realmente ciente das milhas que foram registradas, da vida que passou sob a ponte, e como isso me fez crescer. Sou alguém que sempre tentou pensar no que tudo isso significou. Sou uma buscadora. Então eu sinto a minha idade. Eu me sinto crescida".


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