São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PERSONALIDADES

CARLOS SLIM

Magnata da mídia quer distância dos holofotes

Por MARC LACEY


"Acho perversa a ideia de que países pobres não devam ter empresas fortes"

CIDADE DO MÉXICO - Carlos Slim Helú, o homem mais rico do México, tem um relacionamento complexo com a mídia. Ele investe em diversas empresas de televisão e vários jornais e diz que prevê um futuro róseo para as empresas de mídia que souberem se adaptar.
Mas, quando a mídia volta seus holofotes a ele, Slim às vezes dá a impressão de querer que o deixem em paz enquanto tenta ganhar mais dinheiro.
Leitor ávido de jornais, ele diz que vê a mudança para o noticiário digital, que vem causando dificuldades às empresas jornalísticas, não necessariamente como um indicativo da morte dos jornais.
Slim, que comanda empresas de telecomunicações, do varejo e da construção, ocupa um espaço grande na paisagem de mídia de seu país.
Raymundo Riva Palacio, jornalista veterano da Cidade do México, disse que, após ter escrito no jornal "El Universal" uma coluna tachando Slim de monopolista, em 2006, um assessor do empresário ameaçou deixar de anunciar no jornal.
A ameaça não era pouca coisa. A lista de empresas de Slim é tão grande que ele controla uma fatia significativa de toda a publicidade no México. Eduardo García, jornalista mexicano que dirige um site de notícias financeiras em espanhol e cobre Slim, estimou a fortuna deste em quase US$ 44 bilhões no final de 2008.
"Interpretei o incidente como parte da dinâmica natural entre a mídia e os poderes instalados no México", disse Riva Palacio, acrescentando que o incidente foi resolvido sem alarde. "É assim que as coisas funcionam aqui."
Por meio de seu porta-voz e genro, Arturo Elias, Slim se negou a ser entrevistado para esta reportagem. Mas Elias disse que não foram tirados anúncios do "El Universal" e que Carlos Slim não usa seu poder econômico dessa maneira.
"Somos um anunciante importante, sim, mas isso não nos dá o direito de intervir no lado editorial", disse Elias.
Slim construiu sua fortuna comprando empresas em dificuldades e fazendo-as voltar a ganhar dinheiro, mas ele entrou de fato para o primeiro escalão no ranking dos bilionários do mundo quando, em 1990, comprou do governo a empresa que exerce o monopólio da telefonia no México, Teléfonos de México, ou Telmex.
Hoje, apesar de o mercado telefônico do país supostamente estar aberto à concorrência, as tarifas cobradas estão entre as mais altas do mundo. Concorrentes dizem que a Telmex cria obstáculos frequentes e que reguladores relutam em agir.
Slim rejeita as sugestões de que ele seja um monopolista que não faz sua parte pelo México. "Acho perversa a ideia de que países pobres não devam ter empresas fortes", disse ele a jornalistas, num almoço no ano passado.
Em matéria de mídia, as empresas familiares de Slim já investiram em diversas redes de televisão e, em 2008, compraram uma participação de 1% no jornal britânico "The Independent".
"Sua alavancagem é enorme", disse García, que publica o site de notícias financeiras "Sentidocomun.com.mx", que cobre os muitos empreendimentos de Slim. "É assim que ele camufla as críticas que porventura lhe sejam feitas."
Nos bastidores, Slim emprega uma equipe de advogados para combater os esforços do governo em aplicar leis antitruste contra ele. A Comissão Federal de Competição mexicana está analisando as empresas de Slim. Mas seu poder de fogo supera de longe o do órgão. De acordo com um funcionário da comissão, as empresas de Slim "gastam mais em um único processo do que todo nosso orçamento anual".
Embora Slim enxergue oportunidades de ganhar dinheiro na mídia, o professor de jornalismo Raúl Trejo, da Universidade Nacional Autônoma do México, diz que o empresário não é um magnata que dita a cobertura jornalística.
Elias comentou recentemente que Slim vê seu investimento mais recente no "New York Times" -US$ 250 milhões, pelos quais ele receberá juros de 14% e garantias conversíveis em ações da Times Company- como apenas um negócio.
Além dos benefícios financeiros, pessoas que conhecem o empresário também veem na transação um esforço para reforçar sua reputação, associando-se a uma marca conhecida.
"Nós, jornalistas mexicanos, cobrimos tantos vilões, tantos egos inflados, que Slim, apesar de seus defeitos, não parece tão mau assim", disse Riva Palacio.


Texto Anterior: Odor da excitação está na glândula masculina do suor

Próximo Texto: Jane Fonda: De volta ao palco, com muitas vidas para trás
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.