São Paulo, segunda-feira, 16 de novembro de 2009

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Estúdio protege sua aposta em filme de US$ 500 mi


Produtores se previnem contra eventual fracasso

Por MICHAEL CIEPLY

LOS ANGELES — Pode um estúdio de cinema ganhar dinheiro com um filme caro, baseado em uma história original e desconhecida, sem contar com grandes astros de Hollywood e diante de um mercado de DVD em processo de desaparecimento?
A dúvida ganha grandes proporções para a 20th Century Fox e “Avatar”, seu filme de ficção científica em 3D, um dos trabalhos mais caros da história do cinema. Apesar do que pensam muitos céticos, o estúdio calcula que poderá auferir lucros, em parte pelo fato de o diretor de “Avatar”, James Cameron, ter sido a força motriz por trás de “Titanic”, lançado em 1997 e que arrecadou mais de US$ 1,8 bilhão nas bilheterias mundiais.
Mas, para precaver-se caso as vendas de “Avatar” deixem a desejar, a Fox vem se esforçando para proteger suas apostas no filme.
A despeito do estimado meio bilhão de dólares gasto com sua produção e marketing, é possível que “Avatar” represente um risco financeiro surpreendentemente pequeno para a empresa mãe da Fox, a News Corporation, mesmo que decepcione nas bilheterias. Isso se deve a mudanças no perfil econômico do setor do cinema, à dependência de investidores externos e à ajuda de uma rede de companhias aliadas e outras unidades da própria News Corp. Os esforços da Fox destacam a maneira como os estúdios vêm conseguindo minimizar seus riscos em um tempo de orçamentos grandiosos —embora isso também limite seus lucros potenciais.
O custo final do filme ainda não foi contabilizado, já que Cameron, que vem trabalhando sobre “Avatar” há 15 anos, e seus colaboradores —que estão em lugares tão distantes quanto a Nova Zelândia, caso da Weta Digital— ainda não finalizaram o trabalho. Relatos publicados na imprensa estimaram o orçamento de produção do filme em mais de US$ 230 milhões.
Mas o preço seria ainda mais alto se fossem incluídas as contribuições financeiras feitas por Cameron e outros. Quando se somam as despesas de marketing global, “Avatar” pode custar US$ 500 milhões a seus vários financiadores.
O ponto a partir do qual os parceiros de “Avatar” podem começar a lucrar depende da parcela da receita que cada um deles receberá quando o filme chegar aos cinemas, em dezembro e janeiro, e depois ao DVD e a outras mídias em todo o mundo. Se as vendas de ingressos em EUA e Canadá alcançarem US$ 250 milhões —nível superado recentemente por cinco filmes, incluindo “Star Trek” e “Se Beber, Não Case”—, a Fox e suas aliadas provavelmente não correrão o risco de ficar no vermelho.
O fracasso de “O Portal do Paraíso”, em 1980, foi o bastante para derrubar a Transamerica Corporation, então proprietária da United Artists. Mas casos como esses, de filmes que afundam empresas, pertencem mais à história que à atualidade da indústria cinematográfica.
No caso de “Titanic”, a News Corp. correu risco em função de pelo menos metade de um orçamento de produção de US$ 300 milhões (em valores atuais), dividido com a Paramount Pictures. Mas, desta vez, a News Corp. está bancando uma parte muito menor do custo de produção de “Avatar”. Duas outras empresas, Dune Entertainment e Ingenuous Media, respondem por 60% do orçamento, segundo pessoas bem informadas sobre o lado econômico do filme e que pediram anonimato.
Em mais uma medida protetora, segundo as fontes, se os custos de produção superarem um certo nível especificado de antemão, Cameron abrirá mão de sua participação nos lucros.
O maior investimento da Fox em “Avatar” talvez seja no marketing, que demandará cerca de US$ 150 milhões em todo o mundo. Mas também nisso o estúdio buscou parceiros para dividir custos. Uma aliada, a Imax, trabalhou com proprietários de cinemas para uma projeção prévia especial de 15 minutos exibida há alguns meses. “Muitas pessoas estão dando esse tipo de apoio na base da permuta”, disse Greg Foster, presidente da Imax.
Mesmo assim, o estúdio vem tendo problemas. As reações iniciais a um trailer de “Avatar” foram mornas, e as reações ao trailer em 3D da Imax suscitaram dúvidas quanto às possibilidades de o filme —que emprega tecnologias novas para contar a história de um planeta atacado por humanos— ser realmente o tipo de novidade prometida, capaz de mudar as regras do jogo no cinema.
Caso o êxito de “Avatar” seja inferior ao previsto, a Fox usará algo que um executivo descreveu recentemente como uma “arma secreta” . Trata-se de “Alvin e os Esquilos 2”, que deve estrear uma semana depois de “Avatar”. Vista como aposta segura, é a sequência de uma comédia familiar que custou US$ 60 milhões e vendeu US$ 217 milhões nas bilheterias norte-americanas dois anos atrás.


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