São Paulo, segunda-feira, 16 de novembro de 2009

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ARTE & ESTILO

Modernização deixa Mickey com mais atitude

Disney Interactive Studios
No videogame Epic Mickey, ainda inédito, o rato tenta dominar um soberano malvado, enquanto revela o seu lado mais sombrio

Por BROOKS BARNES

LOS ANGELES — Durante décadas, a Disney manteve o Mickey Mouse praticamente congelado em uma redoma, temerosa de que qualquer alteração pudesse macular a marca e perturbar vendas de produtos na casa dos US$ 5 bilhões ao ano.
Agora, porém, preocupada que o Mickey tenha se tornado mais um símbolo corporativo do que um personagem amado por gerações de jovens, a Disney está dando o arriscado passo de repaginá-lo para o futuro.
O primeiro vislumbre disso será o lançamento, no ano que vem, do videogame Epic Mickey, em que o personagem outrora polido pode se mostrar sombrio, perspicaz e também heroico ao atravessar um território desolado e hostil.
Ao mesmo tempo, a Disney embarcou em um projeto ainda maior de repensar a personalidade do personagem, desde o jeito como o Mickey anda e fala até a forma como ele aparece no Disney Channel e como as crianças interagem com ele na internet —e até mesmo o aspecto da casa dele na Disney World.
Para Warren Spector, diretor de criação da Junction Point, desenvolvedora de games da Disney e responsável por Epic Mickey, será “a oportunidade de mexer com um dos ícones mais reconhecíveis no planeta Terra”.
O esforço para recriar o Mickey envolve as principais mentes de criação e marketing da empresa, inclusive o executivo-chefe Robert Iger.
O projeto recebeu um novo ímpeto neste mês, com o anúncio de que, após 20 anos de negociações, a empresa finalmente ganhou a bênção do governo chinês para inaugurar um parque temático em Xangai, potencialmente abrindo um gigantesco mercado para tudo que tiver a ver com o Mickey.
Embora o Mickey continue sendo um superstar em muitos lares, seu caráter estático resultou em uma geração de norte-americanos que o conhecem, mas não conseguem amá-lo. Dos US$ 5 bilhões em vendas de produtos licenciados em 2009, menos de 20% virão dos EUA.
“Há um claro risco de alienar seu consumidor central quando se mexe num personagem sagrado. Mas, a esta altura, é um risco que eles têm de assumir”, disse Matt Britton, sócio da consultoria de marcas Mr. Youth, de Nova York.
No Epic Mickey, criado para o console Wii, da Nintendo, o personagem ainda exibe as mesmas características que as gerações mais jovens conhecem: é aventureiro, entusiasmado e curioso.
“O Mickey nunca será malvado nem sairá por aí matando pessoas”, disse Spector. Mas o Mickey também não será mais insípido. Sob muitos aspectos, é uma volta ao Mickey na sua origem. Quando o personagem estreou em “Steamboat Willie” (1928), ele era o Bart Simpson da época: um agitador desinibido, que se metia em brigas, pregava peças nos amigos e era amorosamente agressivo com Minnie.
Os consumidores só poderão adquirir o jogo no segundo semestre de 2010. A expectativa é intensa, mas alguns observadores não se deixam impressionar. “A abordagem exige muita cautela, dada a dificuldade que as editoras tiveram para ganhar tração no Wii”, disse Doug Creutz, analista de mídia da Cowen and Company.
Veteranos do setor acham que a marca Disney consegue superar tais obstáculos. “Esta é uma enorme oportunidade para dar mais relevância para o Mickey e empurrá-lo para o meio de entretenimento que mais cresce”, disse Jim Wilson, diretor da operação norte-americana da Atari.
A Disney tem ambições grandes nos videogames e gastou ao menos US$ 180 milhões no seu desenvolvimento só neste ano. Ela já tem títulos bem-sucedidos derivados de seus produtos, mas nenhum “blockbuster” próprio. A Disney faturou US$ 86 milhões em vendas no varejo entre janeiro e setembro nos EUA. A Nintendo local, maior vendedora de games do país, faturou cerca de US$ 1 bilhão.
Spector tenta encontrar o modelo correto de 3-D do camundongo, consultando animadores e John Lasseter, cofundador da Pixar.
Um esforço considerável foi dedicado a infundir um contexto de escolhas e consequências. Os jogadores podem se comportar de forma inteiramente feliz e ajudar outros personagens —tendo assim um trajeto mais fácil no território hostil—, ou escolher um comportamento mais egoísta, com um resultado mais duro, inclusive um Mickey que começa a parecer um rato.
“Afinal”, disse Spector, “os jogadores devem se perguntar: ‘Que tipo de herói sou eu?’”. No que diz respeito ao Mickey, é uma pergunta que a Disney também se faz.


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