São Paulo, segunda-feira, 16 de novembro de 2009

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Cientistas investigam antigo tsunami

Por WILLIAM J. BROAD

A erupção maciça do vulcão Thera, no mar Egeu, há mais de 3.000 anos, produziu ondas mortíferas que percorreram centenas de quilômetros do Mediterrâneo oriental, inundando o que hoje é Israel e provavelmente outros sítios costeiros, como descobriu uma equipe de cientistas.
Na edição de outubro da revista “Geology”, os cientistas disseram que novas evidências sugerem que tsunamis gigantes causados pela erupção catastrófica atingiram a costa “em todo o litoral do Mediterrâneo oriental”.
Os tsunamis são ondas gigantes que podem se chocar com o litoral, recompor o leito marinho, inundar vastas áreas de terra e carregar material terrestre para o mar.
Na época, a região abrigava civilizações nascentes em Creta, Chipre, Egito, Fenícia e Turquia. Durante décadas, estudiosos sugeriram que a erupção gigantesca, a apenas 113 km de Creta, poderia ter provocado o misterioso colapso da civilização minoica, no auge de sua glória. Os remanescentes da erupção de Thera hoje formam um arquipélago circular de ilhas vulcânicas na Grécia, conhecido como Santorini.
A erupção do Thera teria ocorrido entre 1630 e 1550 a.C., ou no final da Era do Bronze, época em que muitas culturas humanas fizeram ferramentas e armas de bronze. Os estudiosos dizem que tsunamis e densas nuvens de cinzas vulcânicas da erupção tiveram repercussões culturais que afetaram o Mediterrâneo oriental por décadas, ou mesmo séculos. A queda da civilização minoica é geralmente datada por volta de 1450 a.C., e os geólogos consideram que a erupção foi muito mais violenta que a de 1883 na ilha vulcânica de Krakatoa, na Indonésia, que matou mais de 36 mil pessoas.
Os cinco pesquisadores de tsunamis vieram da Universidade de Haifa, em Israel, do Hunter College, em Nova York, da Universidade McMaster, no Canadá, e da Universidade do Havaí.
A equipe fez escavações perto de Cesareia, em Israel, uma cidade litorânea que data da época romana e bizantina. A região costeira era habitada esparsamente na época da erupção do Thera.
A equipe mergulhou meia dúzia de tubos no litoral marinho e retirou sedimentos para análise. Procurou sinais comuns de tsunamis, incluindo lava, padrões distintos de microfósseis, materiais culturais de assentamentos humanos e seixos de praia que raramente aparecem em águas profundas.
Na revista “Geology”, publicada pela Sociedade Geológica dos EUA, a equipe relatou a descoberta de evidências de três tsunamis —dois documentados historicamente, datando dos anos 115 e 551, e um da época da erupção do Thera.
Os tsunamis do Thera, segundo a equipe, deixaram uma camada-assinatura no leito marinho, com seixos redondos, padrões distintos de moluscos e inclusões características em fragmentos rochosos, todas orientadas na mesma direção.
A camada perturbada, com 41 cm de espessura, veio de cerca de 1 metro abaixo do leito marinho, em águas de até 20 metros de profundidade. “Essas descobertas são a evidência mais abrangente já encontrada de que tsunamis precipitados pela erupção de Santorini atingiram toda a extensão do Mediterrâneo oriental”, escreveu a equipe.
Seu relatório acrescentou que, se ondas gigantes fossem grandes o suficiente para atingir Israel, “então supostamente outros sítios costeiros do final da Era do Bronze em todo o litoral do Mediterrâneo oriental provavelmente também terão sido afetadas”.


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