São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

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RAJIV SHAH

Como sanear uma agência de ajuda

"Esses momentos na história, quando você tem esse tipo de presidente, são raros."

Por MARK LANDLER
WASHINGTON - Dias após tomar posse como diretor da Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA (Usaid), Rajiv Shah foi visitar seu centro de reação rápida, que naquele dia estava vazio.
Doze horas depois, um terremoto devastou o Haiti, e nos dois meses seguintes o centro se tornou o lar de Shah em tempo integral. Shah, 37, um médico perspicaz, mas com pouca experiência em cargos públicos, se viu coordenando um esforço humanitário desesperado, sob o olhar do presidente Barack Obama.
Desde então, o ritmo se manteve praticamente o mesmo: inundações no Paquistão, o envio de mais agentes humanitários ao Afeganistão, uma revisão da assistência internacional dos EUA.
Mas, para esse filho de imigrantes indianos, hoje o mais graduado indo-americano do governo Obama, é sua ambiciosa campanha de reconstrução da Usaid que irá determinar seu sucesso ou fracasso em Washington.
"Ele herdou a liderança de uma agência que estava quase quebrada nas duas últimas décadas", disse Richard Holbrooke, enviado especial de Washington para Afeganistão e Paquistão, antes da sua morte, no mês passado.
Entrevistas com vários funcionários da Usaid sugerem que Shah começou a re-energizar a agência. "A reação inicial foi: ‘Ah, meu Deus, ele é tão jovem’", disse Pamela White, que trabalha há 29 anos na agência. "Mas isso nunca me incomodou."
O auge da Usaid foi em 1968, quando tinha 18 mil funcionários em programas na América Latina, Sudeste Asiático e África -um vibrante legado do apelo de John Kennedy para que os EUA fossem além das suas fronteiras. Mas, após anos de cortes orçamentários, a agência agora tem menos de 9.000 empregados, e durante o governo Bush perdeu para o Departamento de Estado seu papel na definição de políticas.
Enquanto a agência minguava, filantropos privados, como a Fundação Bill & Melinda Gates, assumiam seu lugar. Então talvez não seja acidental que Shah seja um egresso da Fundação Gates; lá ele comandou um programa agrícola e desenvolveu um fundo para financiar vacinações.
Shah admite que a arena política sempre o atraiu. Filho de um engenheiro da Ford e de uma administradora escolar, ele se formou em medicina na Universidade de Michigan e na Universidade da Pensilvânia, e se tornou consultor de políticas sanitárias da campanha presidencial de Al Gore.
"Sou um queixoso crônico quando não estamos no poder", disse, comentando sua decisão de entrar para o governo Obama. "Acredito que são raros esses momentos na história em que você tem esse tipo de presidente."
Shah não faz segredo de seus planos de trazer um melhor monitoramento e mais rigor analítico para a agência. Quer implantar um empreendedorismo no estilo de Bill Gates, promovendo ideias que venham de fora do seu círculo habitual.
A secretária de Estado Hillary Clinton, superiora hierárquica de Shah, saiu vitoriosa no debate interno do governo sobre se a Usaid deveria permanecer sob a égide do Departamento de Estado.
Com a Usaid em tantos lugares, muitas das dores de cabeça de Shah derivam do excesso de demanda. "Temos de ser honestos com nós mesmos sobre qual é o objetivo dos diferentes programas", afirmou.
"A única coisa boa que saiu do terremoto do Haiti é que elevou Raj Shah a parceiro do presidente", disse David Beckmann, presidente da ONG Bread for the World, voltada para o combate à fome e à pobreza.


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