São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Fim de conflito tâmil é dádiva para a pesca

Porto de Trincomalee (Sri Lanka), parcialmente reaberto à pesca; "Quando as pessoas aqui não podem pescar, sentem que não estão vivendo", disse uma autoridade local

Por LYDIA POLGREEN

TRINCOMALEE, Sri Lanka - Amanhecera havia pouco, e o mercado de peixe de Trincomalee, cidade portuária no Sri Lanka, fervilhava. Pescadores chegavam carregando cestos nos ombros e despejavam no chão o produto apanhado durante a noite.
"Vou levar isso por 500 rupias (quase R$ 10) o quilo", disse um cliente, apontando com o queixo um enorme atum. "Você consegue me arrumar mais?"
Os pescadores da cidade certamente esperam que sim. O fim da guerra civil de 26 anos contra os rebeldes da etnia tâmil no Sri Lanka, em maio, levou o governo a relaxar as restrições sobre a pesca no porto de Trincomalee, injetando nova vida na moribunda indústria pesqueira da região.
Trincomalee tem um dos mais profundos portos naturais do mundo, e seu potencial para pesca, navegação e turismo parece infinito.
Mas os Tigres da Libertação do Tâmil Eelam (TLTE), um dos grupos separatistas mais brutais e renitentes do mundo, tinham uma pequena, ainda que eficaz, força naval usada em missões suicidas e no fornecimento de armas para seus combatentes. Embora os rebeldes tenham sido expulsos dessa região em 2006, a baía continuou em geral fechada ao desenvolvimento.
Nas últimas semanas, o governo cingalês autorizou os pescadores a trabalharem em turnos de 12 horas, além de permitir a retomada da pesca em outras áreas antes restritas.
A pesca está no coração da vida econômica e cultural de grande parte do litoral do Sri Lanka. "Quando as pessoas aqui não podem pescar, sentem que não estão vivendo", disse T.T.R. da Silva, principal autoridade local.
A rápida recuperação do setor pesqueiro cingalês reflete um renascimento mais amplo que está em curso. No Sri Lanka, com suas exuberantes plantações de chá, praias intocadas, suaves colinas aráveis e portos de águas profundas, a economia espera para ser destravada, dizem autoridades e líderes empresariais locais.
A economia cingalesa tem crescido cerca de 6% ao ano nos últimos quatro anos. Mas a guerra, que fez de 80 mil a 100 mil mortos, deixou os cofres do governo quase vazios. O Fundo Monetário Internacional aceitou ajudar o Sri Lanka com uma linha de crédito de US$ 2,6 bilhões, apesar das objeções de alguns países ocidentais, preocupados com o histórico do governo no que diz respeito a direitos humanos.
Em Trincomalee, há enormes expectativas quanto aos dividendos da paz. Mas a situação não é exatamente perfeita. Os mares podem estar mais abertos, mas em terra permanecem em vigor rígidas medidas de segurança, como bloqueios na estrada que liga a cidade à capital, Colombo, para onde grande parte da pesca diária de Trincomalee se destina.
As autoridades dizem que tais precauções são necessárias porque rebeldes dos Tigres Tâmeis podem continuar escondidos no norte e no leste da ilha.
"Todo cuidado é pouco", disse Da Silva.
Os pescadores estão felizes por voltarem à agua, mas se dizem ansiosos pelo dia em que poderão pescar na hora em que quiserem. No momento, só podem sair por 12 horas a cada vez, e usando apenas pequenas lanchas, o que limita sua produção.
"Há demanda demais, mas não conseguimos atendê-la", disse um pescador de 62 anos chamado Siripala. "Um dia, esperamos ser livres para poder pescar sem medo."


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