São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Iraquianos tomam controle, e EUA acompanham de perto

Por ROD NORDLAND

AO SUL DE BALAD RUZ, Iraque - "Sim, estamos no comando", disse o sargento iraquiano Salman Fallah Jassim, que chefiava uma patrulha conjunta iraquiano-americana através do capim-navalha que cresce num ressecado canal de irrigação. "Mas precisamos de ajuda o tempo todo."
Os militares dos Estados Unidos, de fato, forneceram o detector de metais com que ele varre o terreno, o cão farejador de explosivos e até o transporte dessa missão conjunta, em julho, destinada a encontrar armas na Província de Diyala.
Mas essa unidade, parte do 4? Batalhão da 18a Brigada, está repleta de soldados que as autoridades norte-americanas consideram capazes de defender o Estado iraquiano, mesmo que enfrentando as limitações do Exército local.
É o tipo de unidade que os norte-americanos vêm treinando há anos, na esperança de lhes transferir o controle da segurança, o que finalmente se tornou uma realidade quando as tropas norte-americanas receberam a ordem de deixar todas as cidades, em 30 de junho. Segundo um acordo bilateral, todas as tropas americanas devem sair do país até o fim de 2011.
"Haveria alguns soluços, mas esses caras estariam bem", disse o capitão Richie Santiago, que comanda um pelotão norte-americano equipado com grandes veículos resistentes a bombas. "Eles não têm os helicópteros e todas as coisas que nós temos, mas se virariam sem isso."
Os insurgentes estão submetendo o Exército iraquiano a um teste. Em 10 de agosto, por exemplo, ataques a bomba mataram ao menos 48 pessoas em Bagdá e perto de Mosul, norte do país.
Uma nova dinâmica surgiu entre as tropas iraquianas e norte-americanas desde a retirada: um discreto reconhecimento de que continua havendo uma dependência em relação aos norte-americanos, ainda que os iraquianos tenham começado a exercer a soberania que tanto queriam, com ressentimentos e frustrações mal escondidas de todas as partes.
"Estamos num ponto em que os norte-americanos podem ir para casa", declarou o soldado iraquiano Haidar Fartos. "Derrotamos os terroristas e os insurgentes e não precisamos mais deles."
O capitão Santiago, comandante da missão, admitiu que a relação mudou muito desde 30 de junho, pois a retirada das cidades "os motivou, e algumas unidades [americanas] têm tido problemas em fazer parceria com seus [colegas] iraquianos". "Porém, esses caras são realmente competentes."
Agora, o desafio é que os iraquianos assumam o controle, após anos dependendo dos norte-americanos, disse o coronel Burt Thompson, cuja brigada abrange toda a Província de Diyala. "Temos de chutar a muleta de debaixo [do braço] deles."
A julgar pela patrulha de caça a armas, esse chute ainda está longe de acontecer. A meta era varrer cerca de três quilômetros do leito do canal; só que, após cerca de metade do caminho, os iraquianos pararam e insistiram que já haviam percorrido três quilômetros. "Ainda nem almoçamos", queixou-se um soldado iraquiano. Empurrados pelos norte-americanos, os iraquianos concluíram a varredura, sem achar nada.
Alguns iraquianos claramente consideraram que a missão foi uma perda de tempo e que a continuidade da presença norte-americana era desnecessária. O tenente Dawood Zaman, comandante iraquiano da companhia, foi mais cético. "Estamos apenas 85% prontos", afirmou. "Felizmente temos agora um Exército maior e um menor número de terroristas. As pessoas se sentem mais confortáveis quando veem que saímos com os norte-americanos."
Ele refletiu por um momento e concluiu: "Elas também se sentem muito mais confortáveis quando veem que os norte-americanos saem conosco".

Colaborou Amir A. al Obeidi



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