São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Repensando a evolução, do lobo ao cão

Nova pesquisa questiona se os cães, como estes no Tibete, descendem de lobos domesticados no leste da Ásia

Por NICHOLAS WADE

Poucas pessoas passam a lua de mel apanhando cachorros de rua e coletando seu sangue na África. Mas Ryan e Corin Boyko, dois antropólogos da Universidade da Califórnia em Davis, escolheram essa maneira de coletar dados genéticos valiosos que estão projetando uma nova luz sobre a domesticação dos cães.
A oportunidade de combinar amor com ciência surgiu quando o irmão de Ryan, Adam Boyko, biólogo da Universidade Cornell, discutia a genética dos cães com Carlos Bustamante, seu professor. Bustamante, que acabava de voltar da Venezuela, notou como os cães de rua lá eram pequenos.
Os dois pesquisadores se perguntaram se os cães possuíam um gene recém-descoberto que fez os lobos diminuírem de tamanho e é encontrado em todas as raças de cães pequenos. Bustamante disse que a ideia poderia ser explorada coletando cães de rua de toda a América do Sul. Boyko, sabendo que seu irmão planejava uma viagem de lua de mel à África, mas não tinha dinheiro para ir muito longe, propôs que a pesquisa fosse feita na África. "Eu paguei a lua de mel deles", disse Bustamante.
Ryan e Corin Boyko coletaram 223 amostras de sangue de cães de rua de Egito, Uganda e Namíbia. A questão do gene para tamanho pequeno ainda não foi avaliada, mas sua amostragem, relatada na atual edição de "Proceedings of the National Academy of Sciences", pôs em dúvida uma descoberta sobre a origem da domesticação dos lobos em cães.
A origem é considerada o leste da Ásia, com base em uma pesquisa de 2002 de cães de rua e de raça. Mas a maioria dos cães de rua daquela pesquisa veio do leste da Ásia, o que pode ter influenciado o resultado. Os cães de rua africanos têm a mesma quantidade de diversidade genética que os do leste da Ásia. Isto é surpreendente porque a origem de uma espécie também é geralmente a fonte de maior diversidade genética.
Os Boyko e Bustamante não acreditam que os cães foram domesticados na África, mas dizem que a origem não pode ser o leste da Ásia. A questão é melhor abordada examinando-se apenas cães de rua, eles acham, e excluindo as raças europeias, que geralmente têm origem recente.
Agora, eles estão coletando amostras de cães de rua de todo o mundo na esperança de rastrear não apenas o local ou os locais onde os cães foram domesticados pela primeira vez, como também as viagens que os cães fizeram pelo mundo com seus donos.
A falta de qualquer gradação precisa de diversidade genética entre cães de rua do leste da Ásia e da África poderia significar que, depois de domesticados, os cães se disseminaram muito rapidamente, partindo de seu ponto de origem.
Robert Wayne, biólogo da Universidade da Califórnia em Los Angeles, disse que o novo relato "perturba" a tese de que os cães evoluíram no leste da Ásia. Mas eles não poderiam ter evoluído na África subsaariana, que não tem lobos, e "então devem ter evoluído em algum outro lugar, talvez no Oriente Médio", ele disse.
A solução para a origem do cão virá da amostragem de lobos de todo o mundo, assim como cães de rua, disse Wayne. Um chip que rastreia o genoma foi desenvolvido para os cães. Wayne usou o chip para rastrear genomas de lobos. Ele disse que agora estão trabalhando em um relatório que poderá resolver o atual enigma sobre onde se originaram os cães.


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