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São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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Em descompasso com o "por aí"


Na natureza, sem noção do perigo, e levando a pior

Durante séculos, montanhistas e exploradores ampliaram seus limites, sempre cientes de que uma virada no tempo, uma curva errada, um tornozelo torcido ou um erro de avaliação poderia levar à morte. Mas hoje, com o resgate ao alcance de uma ligação pelo celular, a tecnologia alterou a atitude e os hábitos de profissionais e amadores frente aos riscos das atividades ao ar livre.
"Nos últimos 10 ou 15 anos, tudo isso mudou -para pior, na minha opinião", escreveu David Roberts, escritor e praticante dessas atividades, no "The New York Times". "Graças ao telefone via satélite, aos rádios, GPS, helicópteros e outras tecnologias, os aventureiros radicais não só podem muitas vezes serem resgatados de situações que de outra forma seriam fatais, como às vezes contam com esse resgate como uma opção de escape em caso de emergência."
Roberts relatou o feito extraordinário de Walter Bonatti, um italiano que em 1955 se viu retido em um paredão dos Alpes franceses, sem chance de resgate.
Bonatti, que morreu em setembro, aos 81 anos, improvisou laços na sua corda e conseguiu escalar o penhasco, uma mão atrás da outra, numa ascensão que um colega qualificou como "provavelmente o mais importante feito individual da escalada que já aconteceu e foi registrado".
Os aventureiros anteriores à era tecnológica se referem a essas experiências usando o termo "por aí". "Hoje em dia, poucos aventureiros estão realmente por aí como Bonatti", escreveu Roberts. "Eu diria que isso é uma perda física e experimental para eles."
Poucos de nós jamais andaremos "por aí", mas muitos gostamos de experimentar a vida selvagem, na natureza.
O Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, atraiu 4 milhões de visitantes no ano passado, e bateu o recorde de visitação com 730 mil entradas em julho.
Este ano foi particularmente atribulado em Yosemite, com 18 mortes, segundo o "Times". Em pelo menos um caso, três visitantes ultrapassaram sinalizações claras e caíram no rio Merced, onde a correnteza os arrastou para as quedas de Vernal, com 100 metros de altura.
Uma testemunha disse a um jornal que o grupo estava "tirando fotos e agindo como um bando de estúpidos" antes do acidente.
Timothy Egan, colunista do "Times", lembrou como o clima era totalmente diferente no seu grupo de quatro pessoas que há dois anos escalou o Half Dome, um dos picos mais famosos de Yosemite, e cenário de pelo menos duas mortes recentes.
"Enquanto meu grupo de escalada esperava para descer o paredão de granito", escreveu Egan, "estávamos tensos e meio assustados -e com razão. O nervosismo oferecia uma cautela adicional". Ele lamenta a ignorância e a arrogância de muitos visitantes do parque, e argumenta que tentar minimizar os perigos na verdade acaba os agravando.
"Quanto mais os guardas tentam trazer o Estado-babá para as terras públicas, mais descuidadas e dependentes as pessoas se tornam", escreveu Egan.
"Se as pessoas esperam que um urso pardo seja benigno, ou acham que uma geleira é só uma variação de um tobogã de parque temático, não é culpa do governo quando algo dá errado de forma inesperada e fatal."
Mas nem todos estão cegos aos perigos. Enquanto alguns visitantes de Yosemite em agosto subiam em rochas além de uma cerca e metiam os pés na água apesar das placas proibindo nadar, Randy Crawford, 45, ficava de olho nos seus três filhos perto do rio, e os obrigava a seguir três regras: nada de correr, nada de pular, e nada de encostar na água. "Isso aqui não é a Disneylândia", disse ele ao "Times".

TOM BRADY

Envie comentários para nytweekly@nytimes.com.



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