São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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Escolas líbias abandonam a cartilha do Livro Verde


Jovens rebeldes e pró-Gaddafi voltam às aulas na Líbia

Por KAREEM FAHIM

TRÍPOLI, Líbia - As salas de aula da escola média Alvorada da Liberdade estavam vazias. Os professores andavam perdidos lá fora ou conversavam nos corredores. Um pequeno grupo de adolescentes sentou-se no teatro e armou um plano para atrair de volta seus colegas.
O problema é a revolução, eles concluíram. Poucas semanas depois da libertação de Trípoli, o bairro em que a escola se localiza, Abu Salim, continua sendo um bastião de apoio ao líder deposto, o coronel Muammar Gaddafi.
Os filhos dos lealistas -incluindo adolescentes que foram recrutados ou se apresentaram voluntariamente para o serviço militar- tinham pouco interesse em aprender a história da rebelião ou o novo hino nacional, disseram seus amigos.
Enquanto o país tateia no precipício da mudança, os desafios da Líbia eram claramente visíveis nas escolas de Trípoli. Nas últimas semanas os educadores abriram as portas para uma nova realidade confusa. Para desfazer o currículo rígido e dogmático do coronel, os professores tinham como orientação apenas um fino panfleto de instruções que lhes foi dado por autoridades do governo provisório.
Bairros como Abu Salim, onde as feridas da guerra civil ainda estão abertas, enfrentaram o teste mais duro. Os professores, independentemente de suas simpatias, foram solicitados a pintar com tinta branca a propaganda do antigo governo. Conselheiros se preparavam para lidar com jovens combatentes que voltavam do front de guerra.
A adaptação foi mais fácil em outras partes do país, como Tajoura, que era solidamente anti-Gaddafi. Os estudantes dessas áreas voltaram às escolas em números maiores. No entanto, Abu Salim foi cenário de combates acirrados durante a batalha por Trípoli e os diretores escolares dizem que os pais podem ter medo de deixar seus filhos saírem de casa.
No primeiro dia de aulas no colégio Aniversário da Vingança (o nome comemora a expulsão dos italianos por Gaddafi em 1970), cem alunos foram à escola, segundo o diretor, Mohammed Melek.
"Estamos tentando fazer nosso trabalho como se as coisas estivessem normais", ele disse. Segundo ele, os professores estão preparando um currículo que incluirá uma nova Constituição e a queda do governo anterior.
Mas um aluno, Mahmoud Najem, 17, contradisse Melek, dizendo que apenas um punhado de estudantes havia aparecido. "Eu acho que a maioria dos rapazes quer Gaddafi", ele disse, falando sobre um bairro pobre onde o antigo governo tinha comprado lealdade com presentes em dinheiro.
Na borda de Abu Salim, professores da escola elementar Abdulrahman bin Aouf mergulhavam na história da mais recente revolução com entusiasmo. Em um playground, uma pilha de exemplares do Livro Verde fumegava.
Mais adiante, na mesma estrada, havia sinais de uma revolta contra os revolucionários na escola Sayyida Zeinab. Crianças se recusaram a cantar o novo hino nacional e alguém havia rasgado a nova bandeira oficial da escola.
Abdullah al Ashtar, uma autoridade local que trabalha com as escolas, disse que compreende como o entusiasmo dos revolucionários pode irritar outros estudantes, mas acrescentou: "Não queremos matar essa alegria".
Em vez disso, disse Ashtar, as autoridades escolares reunirão os alunos para discussões e os professores serão incentivados a procurar as crianças das famílias pró-Gaddafi. "Estamos tentando reformá-las", ele disse. "E não afastá-las."
Contribuiu Suliman Alzway

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