São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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Steven M. Davidoff

Ensaio

Uma Clinton no conselho?


Diretores famosos enfrentam desafios em era de escrutínio

Chelsea Clinton como diretora da empresa? Mesmo?
A senhorita Clinton foi indicada no mês passado para o conselho administrativo da IAC/InterActiveCorp, o conglomerado de mídia e internet controlado por Barry Diller. Por seus esforços, Clinton receberá cerca de US$ 300 mil por ano em dinheiro, mais prêmios de incentivo em ações. Nada mal para uma estudante de 31 anos.
Clinton parece ser uma pessoa inteligente e capaz. Com 20 e poucos anos, ela trabalhou na firma de consultoria McKinsey & Company e em um fundo de hedge dirigido por um fiel doador de Bill Clinton. Agora, ela trabalha na Universidade de Nova York e faz um doutorado em Oxford.
Mas sejamos francos. Clinton só tem esse cargo porque é filha do ex-presidente Bill Clinton e da atual secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton. A maior parte dos diretores famosos, porém, conquista sua cadeira.
Isso não significa que Clinton não possa ser um bom membro do conselho. No entanto, questões levantadas após sua indicação destacam a questão sobre quais tipos de diretores deviam fazer parte dos conselhos.
No passado, esses órgãos eram instrumentos passivos do presidente e muitas vezes incluíam celebridades. São exemplos: o ator Sidney Poitier (Walt Disney), o boxeador Evander Holyfield (Coca-Cola) e o ciclista Lance Armstrong (Morgans Hotel).
Nos últimos anos, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) dos EUA tentou trazer mais profissionalismo para os conselhos. As empresas de capital aberto hoje devem ter uma maioria de diretores independentes em seus conselhos e declarar publicamente os motivos pelos quais cada diretor foi escolhido. No caso da senhorita Clinton, a IAC disse que suas "capacidades e experiências complementam a perícia de outros membros do conselho".
No estudo recentemente divulgado, "Em busca de Estrelas: A indicação de Celebridades para Conselhos Corporativos", os professores Stephen P. Ferris, Kenneth A. Kim, Takeshi Nishikawa e Emre Unlu pesquisaram 700 celebridades que serviram em órgãos diretores de 1985 a 2006. Os autores descobriram que a indicação de uma celebridade aumentava o valor de uma empresa por um período de até três anos. Mas para a IAC, com sua variedade de empresas da internet, é difícil ver que prestígio ou valor Chelsea Clinton pode adicionar.
Membros do conselho precisam dedicar tempo e recursos a seus deveres e devem estar dispostos a questionar os atos do presidente da empresa e de colegas diretores. Muitos conselhos, incluindo os da Yahoo e da Hewlett-Packard, já enfrentaram dificuldades por deixar de agir com rigor.
Uma celebridade fará as perguntas difíceis que queremos que um diretor faça? A IAC recebeu notas baixas em governança da empresa de pesquisas GMI.
A questão é se Clinton conseguirá agregar valor ao conselho administrativo da IAC. Enquanto existirem dúvidas sobre isso, ela ainda pode demonstrar que é capaz da tarefa.



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