São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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Domando a última fronteira do comércio global


Para o Wal-Mart e outras empresas, a África vale o risco

Por AZAM AHMED e MICHAEL J. DE LA MERCED

Prejudicadas pela redução dos gastos do consumidor nos EUA, as lojas Wal-Mart buscam outro reforço para suas vendas.
A maior companhia de varejo do mundo está de olho em um continente onde tem pouca presença: a África. É a última companhia do mundo desenvolvido e economicamente estagnado a buscar crescimento no continente africano -talvez a última fronteira do comércio internacional.
"Você tem altos índices de crescimento e populações relativamente grandes que estão mal servidas", disse Colin Coleman, diretor da equipe do Goldman Sachs para a África subsaariana.
Os riscos tradicionais, como governos locais corruptos, e os episódios de violência, continuam presentes em muitos lugares. Mas, enquanto muitos desses países se desenvolvem, os investidores externos aproveitam o crescimento da classe média.
Por US$ 2,4 bilhões, o Wal-Mart adquiriu este ano a metade da Massmart da África do Sul, uma gigante do varejo com lojas em 13 países subsaarianos. Enquanto o grosso de suas lojas Makro e Builders Warehouses estão na África do Sul, relativamente desenvolvida, a Massmart também tem unidades em países como Botsuana, Nigéria e Uganda.
"A África do Sul apresenta uma oportunidade de crescimento atraente para o Wal-Mart e oferece uma plataforma de crescimento e expansão em outros países africanos", disse Andy Bond, o principal executivo do Wal-Mart para a África, na época da primeira oferta à Massmart.
Empresas e investidores estão aumentando suas apostas nos chamados mercados de fronteira, comprando minas no Zimbábue, alugando lojas de aeroporto no Uruguai e adquirindo companhias de crédito no Sri Lanka.
Os corretores dizem que alguns países continuam altamente arriscados, como o Zimbábue e a Venezuela. Mas, enormes jazidas de minérios e outros recursos naturais são como o canto da sereia para empresas e investidores.
Esses tipos de riquezas levaram o grupo Essar, um conglomerado indiano, a formar uma joint-venture de recursos naturais com o governo do Zimbábue. O negócio de US$ 750 milhões destina-se a reviver a problemática Zimbabwe Iron and Steel Company.
Mas, exige trabalhar com Robert Mugabe, um líder cuja política de invasão de fazendas do Zimbábue uma década atrás dizimou a economia do país e expulsou os investidores estrangeiros.
Essas incursões em climas políticos precários nem sempre acabam bem. A Barrick Gold africana aprendeu uma dura lição com uma mina de ouro que comprou na Tanzânia. Os mineradores locais repetidamente tentavam roubar fragmentos de ouro, levando a conflitos sangrentos com as forças de segurança da empresa e com a polícia local.
Em maio, cinco pessoas foram mortas pela polícia quando um grupo de centenas de pessoas tentou invadir a mina com machados e pedras.
O conhecimento local, segundo especialistas, é insubstituível. As companhias muitas vezes trabalham com governos ou outros especialistas em empresas locais antes de fazer uma entrada. Em 2009, executivos da gigante de bebidas SABMiller voaram para o Sudão do Sul, que acabava de sair de uma guerra civil, para negociar a abertura de uma nova fábrica. Mas, em vez de sentarem ao redor de uma mesa, os executivos compraram um trator para a comunidade e prometeram fornecer água potável. Eles também abateram uma vaca.
"Não podemos mandar um bando de homens com maletas para tentar fechar negócios", disse Mark Bowman, diretor-gerente de operações na África da SABMiller. Os primeiros acordos fechados em países em desenvolvimento envolveram matérias-primas como petróleo ou metais. Conforme os países se tornam mais avançados, as empresas de produtos de consumo e mídia-telecomunicações são as próximas da lista.
A gigante das telecomunicações indiana Bharti Airtel comprou a Zain Africa por US$ 9 bilhões no ano passado, reforçando sua presença em 15 países africanos, entre eles Gabão e Burkina Fasso. O acordo destacou outro fenômeno: os chamados Brics -Brasil, Rússia, Índia e China- também estão procurando novas áreas de crescimento.
Decidir quais países valem o risco pode ser difícil.
No entanto, uma coisa mudou. Os antigos investidores retiravam seus investimentos ao primeiro sinal de problemas.
"A diferença hoje é que os investidores estão mais sofisticados e mais dispostos a manter o dinheiro lá", disse Tihir Sarkar, da firma de direito internacional Cleary Gottlieb Steen & Hamilton.



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