São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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MICHAEL KIMMELMAN

CRÍTICA

Um edifício que é bonito e faz bem


Moradias verdes colaboram para a saúde no Bronx


O Via Verde, empreendimento imobiliário subsidiado que está sendo erguido em uma área que já esteve entre as piores do South Bronx, serve melhor do que qualquer outro novo edifício em Nova York como argumento em defesa do valor cívico da arquitetura.
Já faz tempo que esse ofício anda obcecado por objetos de grife e edifícios esculturais, ao invés de atender ao veio mais rico, mais amplo e mais urgente da política pública e do engajamento comunitário.
Como toda boa arquitetura, o Via Verde é bonito. Como nem toda, se esforça para também ser saudável.
O South Bronx tem uma elevada incidência de asma, muitos obesos e acesso limitado a frutas, verduras e legumes, porque os supermercados, como sempre acontece em bairros pobres, são escassos.
Num mundo ideal, as novas moradias seriam erguidas de mãos dadas com novas escolas e supermercados. Mas no caso do Via Verde a questão era o que um empreendimento imobiliário poderia fazer para moldar os comportamentos.
Os empreendedores e arquitetos surgiram com respostas simples. Uma clínica médica foi alistada para ocupar o espaço comercial no térreo da torre. Os prédios são mais estreitos que o normal, para que os apartamentos envolvam o pátio central e tenham exposição para dois lados, melhorando a ventilação, além de ventilador de teto, para desestimular o uso do ar-condicionado.
Os blocos foram reunidos num alinhamento norte-sul, cada um mais alto que o vizinho, para aproveitar ao máximo a luz natural. As escadarias ficam ao lado dos elevadores e têm janelas para estimular as pessoas a andarem.
Uma academia de ginástica ocupa não um porão, mas um lugar de destaque, com muita luz e ótima vista para a característica mais marcante do Via Verde: 3.700 m2 de jardins e árvores frutíferas plantados sobre as lajes de casas geminadas. Os moradores podem cultivar frutas, legumes e verduras em hortas comunitárias na cobertura.
Ao contrário de tantos projetos habitacionais públicos, o Via Verde repensa a mistura de espaços públicos e privados, para encorajar os moradores a passarem mais tempo ao ar livre. Um projeto saudável, nesse caso, se resume ao fundamental: ar, luz, lugares para passear, coisas para olhar. O Via Verde vai além de oferecer uma moradia decente que se encaixe no entorno sem fazer barulho. Ele quer se destacar, ancorar a mistura urbana ao seu redor. Qual é o valor disso?
A arquitetura mais verde e mais econômica não é, em última análise, a que é preservada, mas a que é apreciada. Projetos ruins, demolidos depois de 20 anos, como tantos projetos mal concebidos têm sido, acabam sendo as propostas mais caras.



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