São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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A rica solidão musical da cantora Feist


Ignorando a natureza impessoal do pop de hoje

Por JON PARELES

Leslie Feist, a compositora que assina suas gravações simplesmente como Feist, conduziu-me como visitante por uma trilha sinuosa, subindo até o topo de uma montanha, com ampla vista de copas de árvores e uma represa.
Enquanto andava, Feist falou de letras -de seu novo álbum, "Metals"- inspiradas pela vista. "Barragem de rio, lago enche a terra", ela recitou. "Subo até o mirante." Ela riu. "Não acredito que estou fazendo essa coisa brega, citar a mim mesma."
Mas, disse ela, foi esse o mirante que ela tinha em mente, em uma reserva florestal perto de sua casa de campo ao norte de Toronto, que é seu retiro quando quer se afastar do redemoinho do mundo pop. É um lugar que ajudou a inspirar algumas das canções do novo álbum de Feist.
"Metals" ignora todo o pop computadorizado e impessoal de hoje; é feito para a intimidade, não para o mercado de massas. Os fãs estavam esperando o álbum. Quando o novo single de Feist, "How Come You Never Go There", foi lançado on-line, em 12 de agosto, recebeu tanta atenção quanto trabalhos de gente como Kanye West e Jay-Z.
"Sempre penso em como estou sozinha em meu quarto compondo a música, e, depois, a maioria das pessoas ouve música sozinha", disse Feist. "Assim, na realidade há uma conexão bastante direta entre compor e ouvir."
O álbum foi tocado manualmente e gravado, em grande parte, ao vivo no estúdio, com os músicos tocando juntos em tempo real. "Fazemos discos suaves", disse Robbie Lackritz, o empresário de Feist.
"Metals" não oferece ao ouvinte nada que se assemelhe a "1234", o sucesso mundial do álbum de 2007 "The Reminder". Essa canção passou de um comercial do iPod Nano, da Apple, para as paradas pop, e, juntamente com o terceiro álbum de Feist, valeu a ela uma indicação ao Grammy de melhor artista revelação. Em pouco tempo ela estava se apresentando em grandes shows.
"Nunca em minha vida pensei em singles", disse. "'1234' não foi um single, foi simplesmente o tipo de coisa que chamou a atenção."
Feist tem 35 anos e se apresentava no circuito indie rock desde os anos 1990: numa banda punk, com a rapper Peaches, com a By Divine Right e com a Broken Social Scene. Depois, sozinha, gravou e se apresentou sem parar. A turnê mundial "Reminder" a deixou esgotada.
"Estava me apresentando para plateias enormes e eu tinha ficado um pouco surda -quero dizer, emocionalmente surda."
Ela decidiu se presentear com um ano de folga, que acabou se desdobrando em dois anos. Feist começou a escrever canções novas no outono americano passado; em janeiro, já tinha material suficiente para um álbum.
"Foi uma alegria voltar a ter curiosidade, após um tempo afastada", ela disse.
Sempre houve uma melancolia nas suas canções. Em "Metals", falam de amor, morte e solidão.
"Se você passa sua vida inteira fazendo uma coisa, você deve produzir coisas que você sabe serem verdadeiras", disse Feist. "Quando você sente uma canção, quando a escreveu a partir de algo sincero -tão sincero quanto você pôde ser naquele momento-, você se renova."



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