São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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Uma nova revolução cultural na China

Por ROBIN POGREBIN

Enquanto as casas de leilões se prepararam para a temporada de outono, os colecionadores de arte na China vêm se tornando uma força cada vez mais poderosa no mercado, demonstrando interesse crescente por arte não apenas asiática, mas também ocidental.
No leilão de primavera da Sotheby's, um comprador chinês arrematou a tela mais cara da noite -"Femme Lisant (Deux Personnages)", de Picasso-, por US$ 21,3 milhões. Em março, na casa Lebarbe, em Toulouse (França), um comprador chinês marcou um novo recorde para vendas de arte chinesa na França, com um lance de US$ 31 milhões por uma pintura do Palácio Imperial de Pequim.
Hoje, casas de leilões chinesas andam vendendo obras em um ritmo igual ao das casas de Londres e Nova York. Uma empresa que rastreia o mercado de belas-artes, a Artprice, informou que as casas chinesas foram responsáveis por cerca de US$ 8,3 bilhões em vendas de arte, o que as colocaria na liderança mundial do setor.
"Assistimos a um crescimento exponencial por parte de compradores da China que cresceram durante a Revolução Cultural", comentou Henry Howard-Sneyd, vice-presidente de arte asiática da Sotheby's. "São pessoas de negócios muito bem sucedidas que têm muito dinheiro à sua disposição."
Este ano, a Christie's nomeou representantes chineses em Nova York e Londres para atrair clientes novos na Ásia e administrar as relações com os maiores colecionadores particulares da China e da Ásia que são clientes seus.
Especialistas em leilões de arte dizem que, até certo ponto, os chineses vêem a arte não apenas como uma maneira de diversificar portfólios, mas como meio de projetar status, enquanto interagem com executivos internacionais. O aumento na atividade de colecionadores chineses também seria uma reação aos anos da repressão maoista, durante os quais o país censurou o acesso à cultura.
"Os chineses querem recuperar sua cultura e sua história", explicou Howard-Sneyd.
Lawrence Chu, colecionador de Hong Kong que dirige a BlackPine Private Equity Partners, disse que coleciona artistas ocidentais como Toby Ziegler, Mark Bradford e Dana Schutz -além de arte asiática- porque "os artistas são mais desenvolvidos".
"Há um pouco mais de substância no que eles fazem", explicou.
Enquanto muitos comparam essa onda chinesa à corrida japonesa à arte impressionista nos anos 1980, outros pensam que a tendência vai durar mais tempo.
"A arte fez parte dessa maneira de sair e fazer uso da posição econômica do Japão para possuir ativos de todo o mundo -mais Picassos, mais Monets, mais isso, mais aquilo", disse Marc Glimcher, presidente da Pace Gallery, uma galeria de Nova York que representa alguns dos artistas mais importantes da atualidade.
Com o crescimento do mercado chinês, grandes galerias vêm abrindo escritórios satélites na China. A Pace Gallery, por exemplo, foi uma das primeiras a se aventurar na China, em 2008.
"É a mesma coisa sempre que há uma catástrofe seguida por um boom", disse Glimcher. "A Revolução Cultural foi essa catástrofe, e este momento é o boom."



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