São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2011

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Encontrando sinal terrível de extinção

Por CARL ZIMMER

Nos últimos 540 milhões de anos, a Terra assistiu a cinco extinções maciças. Em cada uma dessas catástrofes, calcula-se que 75% ou mais das espécies desapareceram em milhões de anos ou menos.
Durante décadas, os cientistas advertiram que os seres humanos podem estar apressando uma sexta extinção em massa, e, recentemente, um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley testou essa hipótese. Eles aplicaram novos métodos estatísticos a uma nova geração de bancos de dados de fósseis. Como relataram no mês passado na revista "Nature", o atual índice de extinções está muito acima do normal. Se as espécies ameaçadas continuarem desaparecendo, uma sexta extinção vai levar apenas alguns séculos ou milênios.
Os cientistas advertem que talvez seu novo estudo subestime grosseiramente quantas espécies poderão desaparecer. Além das atividades humanas como a caça, o excesso de pesca e o desmatamento, cientistas estimam que o aquecimento global aumentará a devastação. "O ritmo e a magnitude da atual mudança climática são mais rápidos e mais graves do que muitas espécies experimentaram em sua história evolutiva", disse Anthony Barnosky, o principal autor do estudo.
Mas os cientistas têm dificuldades para relacionar o destino de qualquer espécie isolada ao clima. Os políticos querem ter uma ideia melhor de quantas espécies correm o risco de extinção. Mas os cientistas rejeitam isso.
"Precisamos ser firmes sobre a complexidade dos sistemas biológicos, e não deixar que políticos nos forcem a dar respostas simplistas", disse Camille Parmesan, bióloga da Universidade do Texas. Ela e outros pedem medidas conservacionistas que não dependam de precisão. A doutora Parmesan coletou evidências veementes de que o aquecimento global já está influindo.
Em 2003, ela e um colega descobriram que o habitat de mais de 1.700 espécies de plantas e animais está se deslocando em média 6,1 quilômetros por década em direção aos polos e subindo montanhas.
Mas outros pesquisadores tentam atribuir alterações em espécies individuais à mudança climática. Na revista "Nature Climate Change", a doutora Parmesan e outros afirmam que tentar atribuir mudanças biológicas ao aquecimento global é o caminho errado. Enquanto a marca global da mudança climática pode ser clara, a imagem pode ficar desfocada em espécies individuais.
Na Europa, por exemplo, a borboleta "mapa" (Araschnia levana) expandiu seu habitat nas bordas ao norte e ao sul. O aquecimento global, provavelmente, tem algo a ver com sua expansão para o norte. Mas as borboletas também se beneficiam do corte da erva junto às estradas, que permite o crescimento de plantas da família das urtigas. Como esses insetos se alimentam de urtigas, conseguem sobreviver em uma área maior.
Rastrear os efeitos da mudança climática sobre as espécies pode nos ajudar a ver como a natureza poderá reagir nas próximas décadas. E muitos cientistas pensam que o futuro é sombrio. Com o aumento das temperaturas, muitas espécies talvez não consigam mudar seus habitats para um ambiente confortável. Suas áreas poderão encolher, levando-as para o caminho da extinção.
Modelos para prever essas mudanças de habitats ganharam destaque em 2004, quando uma equipe global publicou um estudo de mais de mil espécies. Eles estimaram que de 15% a 37% de todas as espécies poderiam se tornar "destinadas à extinção" até 2050, graças à mudança climática.
Mas em seu novo livro, "Driven to Extinction [levados à extinção]", Richard Pearson, diretor de pesquisa de informática para biodiversidade no Museu Americano de História Natural, diz que recuou ao ver a pesquisa reduzida a notícias simplistas e chamativas, que diziam que um milhão de espécies estavam condenadas.
Os animais podem se adaptar modificando seu comportamento. Os ursos polares, por exemplo, enfrentam maior dificuldade para caçar focas por causa do derretimento do gelo marinho. Por isso, alguns ursos estão obtendo mais alimentos na terra, atacando ninhos de gansos para comer ovos.
Os seres humanos aumentam a complexidade. Cidades e fazendas bloqueiam o caminho de muitas espécies que de outro modo poderiam se espalhar por habitats mais adequados. Cientistas da Austrália descobriram que os recifes de corais resistem mais ao aquecimento global quando são protegidos da pesca excessiva.
Essas pesquisas se tornarão a base para decisões sobre quais espécies ajudar e como. A doutora Mace acredita que algumas espécies mais vulneráveis talvez devam ser deslocadas para novos habitats para sobreviver. Mas o doutor Pearson defende a reserva de mais terras. Mais espaço ajudará a manter as áreas das espécies extensas. "Precisamos dar à natureza a oportunidade de reagir", ele disse.


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