São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2011

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Os egípcios perdem confiança no governo militar

Por MONA EL-NAGGAR e MICHAEL SLACKMAN

CAIRO - Um blogueiro foi posto na prisão recentemente por "insultar os militares". Defensores dos direitos humanos dizem que, nos últimos dois meses, milhares de pessoas foram presas e julgadas por tribunais militares. Manifestantes teriam sido torturados, e ativistas mulheres teriam sido submetidas a chamados exames de virgindade.
Fartos e revoltados com os governantes militares, dezenas de milhares foram à praça Tahrir em 8 de abril, em uma das maiores manifestações públicas desde que o ex-presidente Hosni Mubarak renunciou ao poder em 11 de fevereiro. O protesto foi descrito como a Sexta-Feira do Aviso.
Desde que os militares assumiram o controle direto do país, as Forças Armadas têm visto sua posição de defensora da revolução questionada por atos que refletem as táticas autoritárias do passado. "Não queremos confronto com o Exército, mas os militares precisam entender que o povo não vai se calar", disse Nevine Bakir, 42, quando chegou à praça. Mais tarde, tropas espancaram manifestantes e dispararam contra eles. Críticos dos militares dizem que eles não estão dispostos ou não são capazes de inaugurar uma era de reformas.
"O Exército e o povo não são uma mão só", escreveu em um post o blogueiro encarcerado Michael Nabil, que agora enfrenta um julgamento secreto e uma sentença de três anos de prisão. "A revolução conseguiu até agora livrar-se do ditador, mas a ditadura ainda existe."
Contudo, apesar do desespero expresso por muitos egípcios diante das ações das Forças Armadas, aqueles que já serviram nelas ou as estudaram dizem que não se surpreenderam, em vista da liderança dos militares e das responsabilidades que se pediu que assumissem, que ultrapassam de longe seus deveres e capacidades tradicionais.
Um porta-voz das Forças Armadas disse que muitas das acusações são baseadas em rumores, e que as forças vão investigar as acusações de abusos contra mulheres. Ele acrescentou que as Forças Armadas estão comprometidas com a democracia.
"Eles (os militares) são indivíduos bem versados e com conhecimento, mas não foram preparados para o que estão fazendo agora", opinou Nabil Fouad, general aposentado e professor de estudos estratégicos.
O Conselho Supremo das Forças Armadas, um pequeno conselho de líderes militares não acostumados a prestar contas públicas de seus atos, assumiu a autoridade no Egito. O conselho está exercendo coletivamente o papel de presidente, com poder final sobre cada decisão, mas tem revelado pouco sobre seu processo decisório. Seus integrantes, escolados no sistema antigo de privilégios, não apenas foram nomeados por Mubarak como trabalharam com ele por anos.
O líder supremo é o marechal de campo Mohamed Hussein Tantawi, aliado de longa data de Mubarak. Tantawi, 75, tem um longo histórico de exercer influência considerável nos bastidores em áreas que vão muito além da defesa nacional.
Em 8 de abril, pela primeira vez, Tantawi tornou-se alvo da ira da multidão, quando oradores o tacharam de ditador e exigiram sua renúncia. "Ditador, ditador, Tantawi é o próximo", gritou um orador sobre o pódio, diante da multidão. É o marechal Tantawi, talvez mais que qualquer outra pessoa, quem está comandando os acontecimentos no Egito, pautando-se pela palavra de ordem de Mubarak, "estabilidade".
Na praça, os manifestantes exigiram ouvir Tantawi se manifestar. "Marechal de campo, por que você está calado?" gritou o orador sobre o pódio. "Você está com eles ou o quê?"


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