Estrangeiros querem reinventar culinária da Tailândia

Por THOMAS FULLER
BANCOC - Quando um chef australiano teve a audácia de declarar que tinha a missão de injetar ânimo novo na culinária tailandesa, isso foi visto por alguns neste país como provocação.
No mês passado, David Thompson, que recebeu uma estrela Michelin por seu trabalho no restaurante tailandês Nahm, em Londres, abriu uma filial em Bancoc do restaurante aclamado, declarando que a cozinha tailandesa está "decaindo".
"Busco a autenticidade. Essa é minha meta principal", disse.
Os tailandeses acreditam que é impossível para estrangeiros dominarem o equilíbrio complexo e sutil de ingredientes necessários para um curry ou pasta de pimenta chili perfeitos.
"Quando alguém chega e se apresenta como porta-voz da culinária tailandesa, é como se Osama bin Laden fosse ao Vaticano e se declarasse a autoridade máxima do catolicismo", disse Bob Halliday, escritor sobre gastronomia que vive em Bancoc. "A política é paz e amor quando comparada ao que acontece no mundo da culinária tailandesa."
Vale lembrar que a política tailandesa está tempestuosa. A psique tailandesa vem sendo fustigada por quatro anos de facções políticas enfrentando-se pelo poder, uma polarização política resolvida com franco-atiradores e ataques de granadas.
A falta de modéstia de David Thompson foi recebida como outra indignidade no "annus horribilis" da Tailândia. O fato de o Nahm, em Londres, ter sido o primeiro restaurante tailandês a conquistar uma estrela Michelin fere o orgulho de alguns tailandeses. O segundo restaurante tailandês a ter sido agraciado, o Kiin Kiin, fica em Copenhague e também abriu uma filial em Bancoc.
Nutchanand Osathanond, gastrônoma que divide seu tempo entre Paris e Bancoc, experimentou recentemente uma dúzia de pratos no Nahm de Bancoc.
"Não posso explicar por que não é autêntico, mas não é", disse ela. "Alguns dos sabores são pronunciados demais -e tudo é afogado em condimentos."
Um jantar no Nahm, que fica no hotel Metropolitan de Bancoc, começa com aperitivos semelhantes a "tapas", como, por exemplo, uma folha de bétele recheada com pomelo, camarões grandes grelhados, coco e amendoim torrados, tudo temperado com açúcar de palma e tamarindo.
As saladas incluem uma feita com frango grelhado, hortelã, folhas de uma fruta semelhante à manga, capim-limão, pimentas vermelhas e pasta doce de pimenta chili.
Após uma seleção de curries, sopas e pratos refogados, é servido durião, uma fruta odorífera, mas muito apreciada do sudeste asiático, misturado com arroz grudento e leite de coco.
David Thompson, 50, vem para a Tailândia intermitentemente desde 1986. Ele fala e lê tailandês, e seu sócio, Tanongsak Yordwai, 51, que também cozinha no restaurante, é tailandês.
O maior elogio que ele já recebeu veio da esposa de um funcionário do governo tailandês que jantou no Nahm em Londres. Depois da refeição, ela estava saindo do restaurante de cara fechada.
"Vim para cá para reclamar", disse ela, segundo Thompson. "Mas não posso."