São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2010

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Endinheirados indianos são incentivados a ajudar pobres

Por VIKAS BAJAJ
MUMBAI, Índia - O bilionário capitalista de investimentos e cofundador da Sun Microsystems Vinod Khosla já era um dos homens mais ricos do mundo quando, alguns anos atrás, investiu na SKS Microfinance, que concede empréstimos a mulheres pobres na Índia.
Mas o sucesso estrondoso da recente oferta pública inicial de ações da SKS em Mumbai o enriqueceu em mais US$ 117 milhões, dinheiro que Khosla diz que pretende reinvestir em outros empreendimentos que visam combater a pobreza e, ao mesmo tempo, tentar auferir lucros.
E Khosla diz que quer desafiar outros indianos ricos a fazer mais para ajudar os miseráveis de seu país.
Ao apoiar empresas que concedem crédito educacional ou distribuem painéis solares em vilarejos, Khosla diz que quer mostrar que entidades comerciais podem ser mais úteis no combate à pobreza que a maioria das organizações sem fins lucrativos.
"É preciso que sejam feitos mais experimentos na criação de empreendimentos sustentáveis que atuem no mercado dos pobres", disse.
Alguns especialistas de organizações sem fins lucrativos dizem que empreendimentos sociais comerciais possuem limitações importantes e geram conflitos de interesses. Mas defensores dos empreendimentos sociais comerciais, como Khosla, tiram inspiração do crescimento global das microfinanças -a concessão de empréstimos pequenos a empreendedores pobres, algo do qual a SKS Microfinance é praticante notável.
Além de Khosla, empreendedores como Pierre Omidyar, cofundador do eBay, e Stephen M. Case, um dos fundadores do America Online, criaram fundos que visam fazer o bem, atendendo às necessidades de pessoas na base da sociedade.
Mas Khosla, 55, que mudou-se da Índia para os EUA quando era estudante de pós-graduação, em 1976, tem outra motivação. Ele quer incentivar outros indianos ricos a doar uma parte maior de sua riqueza.
A "Forbes" estima que a Índia já tenha 69 bilionários -eram apenas sete em 2000-, mas apenas alguns poucos deles criaram grandes organizações de caridade, fundos de doações ou fundos de capital de investimentos.
"Me surpreende que não exista na Índia uma tradição de filantropia em grande escala e de ajudar a resolver problemas sociais e definir um modelo social", disse Khosla.
Atividades beneficentes e inversões em fundos de capital de investimentos têm sido comuns para algumas famílias empresárias indianas, como a família Tata, e no caso de empreendedores do setor de tecnologia, como Aziz Premji, da Wipro, firma de terceirização de Bangalore. Mas muitas outras têm doado muito pouco.
Os indianos ricos "estão mais voltados à construção de templos", disse Samit Ghosh, executivo-chefe da Ujjivan Financial, uma empresa de microcrédito com sede em Bangalore, "e não em investir seu dinheiro em programas reais que terão impacto real no alívio da pobreza".
Khosla investiu em concessores de crédito comercial de microfinanciamento e doou dinheiro para outros fundos semelhantes, mas sem fins lucrativos. Ele afirma que as versões com fins lucrativos ajudaram muito mais pessoas necessitadas de microcrédito.
Ele disse que quer ajudar a criar uma nova geração de firmas como a SKS, que começou a conceder empréstimos como empresa comercial em 2006. Hoje, ela tem 6,8 milhões de clientes e um portfólio de empréstimos de 43 bilhões de rúpias (US$ 940 milhões).
Já a CashPor, uma concessora de empréstimos indiana sem fins lucrativos à qual Khosla também deu dinheiro, tem 417 mil clientes e um portfólio de 2,7 bilhões de rúpias (US$ 58 bilhões), apesar de ter iniciado suas operações em 1996.
Khosla disse que vai utilizar os lucros que obteve com a SKS para criar um novo fundo de investimentos que irá investir em firmas que se enquadrem em seu modelo de alívio rentável da pobreza. Ele já investiu na Moksha Yug Access. A firma diz que ajuda agricultores a reduzir seus custos de transporte e conseguir preços mais altos por seu leite do que conseguiriam com os distribuidores locais.
Especialistas dizem que empresas comerciais exercem um papel importante no combate à pobreza, na medida em que geram empregos. Mas, para eles, não se pode esperar que esses "empreendimentos sociais", como às vezes são conhecidos, resolvam sozinhos as muitas causas arraigadas da pobreza.


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