São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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PAUL KRUGMAN

Combatendo a depressão

"Se não agirmos com rapidez e ousadia", disse o presidente eleito, Barack Obama, no início do mês, "poderemos assistir a uma queda econômica mais profunda".
Minha opinião é que ele estava amenizando os fatos. Os dados econômicos recentes em todo o mundo são apavorantes. A atividade manufatureira diminui em toda parte. Os bancos não concedem crédito; empresas e consumidores não gastam. Falemos sem meias palavras: parece o início de uma segunda Grande Depressão.
Será que agiremos com "rapidez e ousadia" suficientes para impedir isso? .
Por anos, a maioria dos economistas acreditou que prevenir outra recessão seria fácil. Em 2003, Robert Lucas, da Universidade de Chicago, disse que "o problema da prevenção de depressões (...) está solucionado há décadas".
Milton Friedman, em especial, persuadiu muitos economistas que o Fed (Banco Central dos EUA) poderia ter evitado a depressão simplesmente provendo os bancos de mais liquidez, impedindo a queda acentuada na disponibilidade de moeda.
Mas a verdade é que prevenir depressões não é tão simples. Sob a direção de Ben Bernanke, o Fed vem fornecendo liquidez a todo vapor, e a disponibilidade de moeda sobe rapidamente. Apesar disso, o crédito continua escasso, e a economia ainda está em queda livre.
A afirmação de Friedman sobre a política monetária foi uma tentativa de refutar a análise de John Maynard Keynes, que argumentou que a política monetária é ineficaz numa depressão e que é necessária política fiscal -gastos deficitários governamentais em grande escala- para combater o desemprego em massa. O fracasso da política monetária na crise atual mostra que Keynes estava certo. E o pensamento keynesiano está por trás do programa de Obama para a economia.
Mas pode ser difícil convencer os políticos do acerto desses planos. Líderes republicanos criam empecilhos à legislação de estímulo à economia, ao mesmo tempo posando de defensores da deliberação cuidadosa pelo Congresso -bastante risível, quando se considera o comportamento de seu partido nos últimos oito anos.
Mais amplamente, após décadas declarando que o governo é o problema, não a solução, a maioria dos republicanos não aceitará uma solução que envolva grandes gastos governamentais.
Contudo, o maior problema que o plano de Obama deve enfrentar será a exigência de muitos políticos de provas de que os benefícios dos gastos públicos propostos justificam seus custos -um ônus da prova nunca imposto às propostas de reduções nos impostos.
Esse é um problema que Keynes conhecia bem: dar dinheiro de graça, ele observou, tende a topar com menos objeções que os planos de investimento público, "que, pelo fato de não serem inteiramente perdulários, tendem a ser avaliados segundo princípios estritamente 'comerciais'".
O que se perde em discussões como essa é o argumento-chave em favor do estímulo econômico: que, sob as condições atuais, um aumento grande nos gastos públicos gerará empregos para americanos que, de outro modo, estariam desempregados e empregará dinheiro que, de outro modo, estaria ocioso.
Meu cenário de pesadelo é o seguinte: o Congresso leva meses para aprovar o plano de estímulo, e a legislação que sai disso é demasiado cautelosa. Com isso, a economia continua a cair durante a maior parte de 2009, e, quando o plano finalmente é colocado em ação, o máximo que consegue é desacelerar a queda.
Logo, este é o momento da verdade. Será que conseguiremos evitar a Grande Depressão 2?


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