São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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ANÁLISE

A urgência em redefinir o papel militar dos EUA no Iraque


"Treinadores" e "assessores" estarão no combate

Por ELISABETH BUMILLER

WASHINGTON - É uma das perguntas mais problemáticas do momento para o Pentágono: qual é a definição de um soldado de combate? E, o que é mais importante, quando todas as tropas americanas vão se retirar das principais cidades do Iraque?
A resposta curta é que as tropas de combate, definidas pelos militares como aquelas cuja missão principal é enfrentar o inimigo com força letal, terão que estar fora das cidades iraquianas até 30 de junho de 2009, o prazo previsto num acordo recente fechado entre os EUA e o Iraque.
A resposta mais longa dá margem a reações aos problemas militares e políticos que o presidente eleito Barack Obama terá que enfrentar.
Embora o acordo com o governo iraquiano preveja a saída de todas as forças americanas das cidades iraquianas até o final de junho, planejadores militares já estão admitindo, sem fazer alarde, que muitos soldados permanecerão, exercendo papéis rebatizados de "treinadores" e "assessores", mas que, na prática, serão de combate. Em outras palavras, eles ainda vão participar de combates -mas serão chamados de outra coisa.
"Treinadores ainda podem ser alvos de disparos e às vezes têm que atirar de volta", disse o tenente-coronel aposentado John A. Nagl, um dos autores do novo manual do Exército americano de contrainsurgência em campo.
A questão cria um problema difícil para Obama, cuja promessa de "pôr fim à guerra" dinamizou seus partidários e ajudou a conduzi-lo à Casa Branca.
Mas, enquanto Obama começa a reunir-se com seus novos assessores militares -os dois mais altamente situados, o secretário da Defesa, Robert Gates, e o almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior Conjunto, já trabalhavam no governo Bush-, já ficou claro que sua definição de pôr fim à guerra envolve deixar muitos milhares de soldados americanos no Iraque. Obama também prometeu aumentar o contingente militar no Afeganistão.
Uma razão das dificuldades é que Obama enfrenta prazos finais próximos e que em alguns casos se sobrepõem, alguns determinados pelo governo Bush e os iraquianos e outros fixados por ele.
Depois de junho de 2009, vem maio de 2010, 16 meses após a posse de Obama. É o mês que Obama citou durante sua campanha como prazo final para a retirada total de todas as forças de combate americanas do Iraque. Em seguida vem dezembro de 2011, o limite para a retirada de todas as tropas americanas do Iraque segundo o acordo sobre o status das forças.
Para tentar cumprir esse cronograma sem colocar em risco a estabilidade frágil e relativa do Iraque, planejadores militares dizem que vão direcionar algumas tropas de combate para fazer treinamento e dar suporte aos iraquianos. Mas as tropas ainda estariam armadas e sairiam em patrulhas de combate com seus colegas iraquianos. Assim, embora seu papel será redefinido, os perigos continuarão os mesmos.
"Se você está em combate, não faz nenhuma diferença você ser um assessor -está arriscando sua vida da mesma forma", disse Andrew Krepinevich, especialista militar do grupo de pesquisas Centro de Avaliações Estratégicas e Orçamentárias.
Alguns especialistas, como Michael O'Hanlon, membro-sênior do Instituto Brookings, argumentam que aproximadamente 10 mil soldados americanos deveriam permanecer em Bagdá depois de junho deste ano, além de milhares mais em outras cidades do Iraque.
Por sua vez, o general Ray Odierno, o mais alto comandante das forças americanas no Iraque, deixou claro que os iraquianos ainda precisam de ajuda -e que os EUA dificilmente vão desaparecer do país. "Vamos manter nossa parceria muito estreita com as forças de segurança iraquianas em todo o Iraque, mesmo após junho", disse ele a jornalistas.
Oficiais militares dizem que isso pode ser feito redefinindo os objetivos de quaisquer forças de combate que permaneçam. Oficialmente, um soldado de combate é qualquer pessoa treinada para enfrentar o inimigo nas chamadas especialidades de ocupação militar que levam códigos de combate, entre elas a infantaria, a artilharia e as Forças Especiais. Desde o ponto de vista das Forças Armadas, um soldado de combate é definido não tanto pelo nome que recebe, mas pelo que faz.
"Não são mais os americanos que estão garantindo a força principal", disse o coronel Nagl. "São patrulhas iraquianas com um pequeno grupo de assessores americanos em seu interior."


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