São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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ANÁLISE

Chefe da CIA estará na corda bamba

Por MARK MAZZETTI

WASHINGTON - Como todo diretor anterior pode confirmar, ter sucesso no leme da Agência Central de Inteligência (CIA) exige um equilíbrio nada fácil: é preciso ser firme o suficiente para impor a agenda da Casa Branca sem provocar uma revolta e, ao mesmo tempo, conquistar lealdades na própria agência sem ser absorvido por sua burocracia.
Para Leon Panetta, escolhido para o cargo pelo presidente eleito Barack Obama, a tarefa será ainda mais difícil por causa da intensa pressão de membros do Congresso e grupos externos para que Obama responsabilize membros da CIA por políticas antiterroristas do governo Bush em que o órgão teve um papel de destaque.
Assessores de Obama dizem que não pretendem orientar Panetta a demitir oficiais da CIA que participaram do programa de detenção e interrogatório secretos do órgão. Mas dizem que o novo governo vai se concentrar em reverter as regras que autorizavam a CIA a realizar interrogatórios agressivos, assim como fechará o centro de detenção americano em Guantánamo, Cuba, que se tornou um símbolo de desrespeito aos direitos humanos.
De fato, ao decidir manter Stephen Kappes como a segunda autoridade da CIA, Obama conservará um oficial que supervisionou diretamente a rede de prisões secretas da agência quando ocupou, em sequência, os dois principais cargos do serviço clandestino da CIA, entre 2002 e 2004.
Mas a escolha de Panetta colocou alguns funcionários do órgão na defensiva, em parte porque Panetta não é o único dos oficiais graduados sendo empossados por Obama que disseram que esse programa de interrogatórios vinha a ser tortura.
O último presidente democrata que chegou ao poder como crítico declarado da CIA foi Jimmy Carter (1977-1981). Ao nomear o almirante Stansfield Turner para dirigir o órgão, ele escolheu alguém que compartilhava sua visão negativa do serviço de espionagem dos Estados Unidos.
O almirante Turner acabou deixando a CIA sem fazer grandes progressos em seu objetivo de afastar o órgão de sua predileção por aventuras no exterior, e admitiu nos últimos anos que foi derrotado por uma burocracia que costuma tratar os forasteiros como vírus hostis.
Panetta, 70, já foi chefe-de-gabinete da Casa Branca e tem uma experiência direta limitada no mundo da inteligência.
Assim que ele passar a ocupar seu escritório no sétimo andar, Panetta administrará funcionários que estão sob investigação federal por participar da destruição de videoteipes dos interrogatórios de dois prisioneiros suspeitos de ser membros da Al Qaeda. O promotor do caso, John H. Durham, disse recentemente a um juiz federal que levará até o fim de fevereiro para entrevistar as testemunhas, enquanto considera se fará denúncias de crime no caso.
Além desse inquérito, Panetta enfrenta a perspectiva de que os legisladores democratas possam criar uma comissão independente para examinar as políticas antiterroristas do governo Bush, incluindo as atuações de funcionários da CIA.
O número de empregados que seriam alvo dessa comissão é relativamente pequeno, e muitos na agência nunca apreciaram o fato de oficiais da CIA atuarem como carcereiros.
Mas alguns especialistas afirmam que qualquer inquérito público poderá ser visto na agência como uma caça às bruxas.
"Se Panetta começar a colocar gente nessa comissão, seu mandato na CIA estará terminado", disse Mark Lowenthal, um ex-oficial graduado da agência e professor adjunto na Universidade Columbia.
"Se isso realmente acontecer, o pessoal da CIA não vai começar a tramar contra o presidente, mas vai evitar correr riscos, e então a CIA se tornará inútil para o futuro presidente", opinou Lowenthal.


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