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Cidade sueca diz "sim" a lixão nuclear
Por JOHN TAGLIABUE
OSTHAMMAR, Suécia - Preocupada com sua saúde, Inger Nordholm desistiu de
trabalhar como cabeleireira, 12 anos atrás, em Osthammar, comunidade litorânea
da Suécia, uma de várias que têm competido pelo direito de receber o primeiro
depósito permanente de lixo radiativo do país. "Eu estava farta da química"
usada nos tratamentos dos cabelos, disse Nordholm, 45.
Hoje, curiosamente, ela trabalha para a empresa que quer construir o depósito,
conduzindo visitantes por uma instalação temporária de lixo nuclear, na
esperança de tranquilizá-los, fazendo-os ver que o local não traz riscos à
saúde. "Gosto de trabalhar com pessoas", disse ela.
Monica Jakobsson seguiu o caminho oposto. Após passar dois anos como segurança
no depósito temporário, ela se aposentou, mas ainda vive em Osthammar e se
preocupa. "Tenho um pouco de medo", disse Jakobsson, 63. "Tudo naquele lugar é
limpo, mas, se você leva qualquer coisa para dentro, um jornal, que seja -
qualquer coisa-, não pode trazê-la para fora outra vez. Isso diz muito."
As duas mulheres refletem o debate travado em Osthammar, onde até 80% dos 21 mil
habitantes são a favor da construção do lixão nuclear. A cidade hoje é 1 das 2
finalistas entre as várias comunidades da Suécia que disputaram o direito de
sediar o lixão.
A Suécia, que abriu mão da energia nuclear depois de esta ser aprovada por menos
de 20% da população em um referendo nos anos 1980, poderia parecer um lugar
improvável para essa concorrência. Mas o país reverteu seu rumo recentemente e
planeja começar a construir novos reatores nucleares -já opera dez deles.
Contudo, as leis do país exigem que, antes de serem erguidas novas usinas
nucleares, a Empresa Sueca de Gerenciamento de Combustível e Resíduos Nucleares
(SKB) deve primeiro criar um espaço de armazenagem permanente de todos os
dejetos radiativos produzidos pelos reatores.
O físico nuclear Claes Thegerstrom, executivo-chefe da SKB, atribuiu a nova
atitude dos suecos em relação à energia nuclear ao medo do aquecimento global.
"Nos anos 1980, ninguém falava em CO2", visto como causa do aquecimento global,
disse ele. "Agora, o CO2 lidera a lista de questões ambientais." Como não
queimam combustíveis fósseis, as usinas nucleares não geram dióxido de carbono.
A decisão final de construir o lixão ou não cabe à cidade. "Temos muita
independência", disse o agrônomo Jacob Spangenberg, prefeito de Osthammar há
quatro anos.
Ele pareceu mais incomodado com um eventual ativismo político que com a
perspectiva de um acidente nuclear, como o de Chernobyl. "Há a possibilidade de
o Greenpeace e ativistas verdes bloquearem as estradas", disse.
Muitas pessoas acreditam que o que pesou mais junto à opinião pública foi a
perspectiva de geração de empregos, e não os temores suscitados pelo aquecimento
global. "Isso [o lixão] poderá ser ótimo para os negócios", disse Mikael
Jansson, 38, funcionário de um supermercado local. E acrescentou: "Pode até
fazer as pessoas voltarem para a cidade -talvez."
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