São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2010

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Visitantes têm rara visão da antiga Bagdá

Por TIMOTHY WILLIAMS e YASMINE MOUSA

BAGDÁ - Um grupo de visitantes estrangeiros fez uma excursão por Bagdá recentemente. Esse fato teria passado despercebido em quase qualquer outra capital. Mas não em Bagdá, onde recentemente a população confundiu os ruídos de uma tempestade com possíveis ataques insurgentes.
Assim, para garantir que a paz prevalecesse por algumas horas, as autoridades mobilizaram um batalhão inteiro do Exército iraquiano, centenas de policiais e um grupo de comando das forças especiais do Ministério do Interior e tomaram a medida extraordinária de fechar a maior parte do antigo bairro histórico de Bagdá.
A ocasião foi uma excursão de cerca de 75 arquitetos e urbanistas de EUA, França, Irã, Japão e outros países, que participaram de uma conferência de seis dias sobre "A preservação dos centros urbanos iraquianos".
Depois de um discurso de boas-vindas do premiê Nuri al Maliki, eles passaram dias escutando especialistas em redesenvolvimento. No quarto dia, amontoaram-se em três micro-ônibus com policiais fortemente armados e agentes da inteligência em veículos blindados, para um passeio pelas maravilhas arquitetônicas e culturais a que a maioria dos estrangeiros não teve acesso durante décadas e que os iraquianos muitas vezes têm medo de visitar.
Enquanto os ônibus eram liberados rapidamente nos postos de controle, em ruas que geralmente são barradas, as pessoas colocavam as cabeças para fora dos carros e apontavam. A probabilidade de ver um estrangeiro que não esteja usando uniforme ou carregando uma arma é extremamente pequena ali.
"Quem são vocês?", gritou um motorista de táxi.
Como quase todas as outras pessoas no passeio, Marc Santos, 49, arquiteto que trabalha para o município de Barcelona, disse que temia os perigos de Bagdá, mas decidiu que valia a pena arriscar-se para ver o que é essencialmente uma cidade proibida. "Tudo aqui é muito controlado", disse. "Mas acho que isso é lógico."
A primeira parada foi a Universidade Mustansiriya, inaugurada em 1233 durante a era de ouro islâmica. A cidade foi saqueada 25 anos depois por Hulagu Khan, neto de Gengis e irmão de Kublai.
Os excursionistas subiram vários lances de escadas até o teto. Uma jovem fingiu cair, o que teria sido uma nova maneira de morrer no Iraque. No telhado, os soldados puxaram suas próprias câmeras e tiraram fotos de si mesmos, exibindo raros sorrisos.
A parada seguinte foi um mercado onde tapetes, livros, tecidos e artigos de cobre, que há muito tempo fazem parte da identidade de Bagdá, estão entre os itens mais vendidos.
No mercado de antiguidades e cobre, o ruído de martelos moldando o metal ecoava pelo prédio, mas o lugar tinha sido esvaziado de compradores e de grande parte de sua personalidade. Os comerciantes em seus estandes espiavam os visitantes.
Geralmente falantes, os homens nada diziam. "Nós gostamos de visitantes", disse um vendedor finalmente. "Precisamos de mais deles."
Enquanto o passeio se aproximava do fim, Michael Pearson, 77, arquiteto londrino, derretia no calor. Ele usava um terno azul risca-de-giz com um lenço vermelho no bolso, camisa listrada vermelha e gravata vermelha.
Diferentemente da maioria das pessoas no passeio, Pearson já havia estado em Bagdá -mas isso fora 30 anos atrás. "[A cidade] está parecendo muito cansada depois de três guerras", ele disse. "É muito triste."


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