São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

San Francisco quer oferecer turismo "realista" em bairro decadente


A atração sinistra de um distrito urbano sombrio e pobre

Por JESSE McKINLEY

SAN FRANCISCO - Os proponentes de melhorias cívicas em San Francisco decidiram acrescentar uma escala improvável ao itinerário turístico habitual: o bairro Uptown Tenderloin, área decadente, dominada por drogas e decrépita habitada pelos moradores mais carentes da cidade.
Randy Shaw, que trabalha há anos em prol do setor habitacional de San Francisco, explicou: "Temos a oferecer algo de realismo nu e cru que não se encontra em praticamente nenhum outro lugar. O que poderia ser mais assim que o Tenderloin?".
De fato, depois de anos de descaso e de disputas em torno de propostas de melhorias, o distrito continua a ser um dos desafios mais difíceis de San Francisco, cidade que se orgulha de sua aparência, de seu modo de vida e das soluções ousadas contra seus males sociais.
Assim, líderes da comunidade e da prefeitura estão preparando o Tenderloin para seu grande momento. Os preparativos incluem planos para a construção de um novo museu, um distrito de artes e caminhadas pelo "maior aglomerado mundial de hotéis históricos de ocupação de cômodos únicos" (conhecidos como SROs, são o equivalente a cortiços). E uma visita ao Tenderloin pode incluir uma atração diferenciada.
"Poderemos levar os visitantes a um SRO e mostrar onde as pessoas vivem", disse Shaw.
As autoridades de San Francisco dizem que o distrito de Tenderloin é uma das áreas de maior densidade demográfica do oeste dos EUA. Cerca de 30 mil pessoas vivem em 60 quarteirões, quase todos contendo pelo menos um cortiço.
O tráfico está amplamente presente ali. Recentemente, a polícia solicitou poderes especiais para dispersar multidões. Moradores mentalmente perturbados são presença constante nas ruas, e, à noite, o bairro pode parecer sinistro, com bêbados caídos nas calçadas e pessoas fumando cachimbos nas entradas de prédios.
Laurie Anderson, do Escritório de Convenções local, descreveu os esforços recentes como "um passo na direção certa", mas ressalvou que ainda há "um caminho longo" a ser percorrido.
Já Randy Shaw diz que o bairro é repleto de tesouros históricos, como o Hotel Drake, onde Frank Capra viveu quando era jovem cineasta, no início dos anos 1920, ou o Hotel Cadillac, onde Muhammad Ali treinava e onde Shaw pretende abrir um museu.
Resta ver se os esforços resolverão a pobreza de seus moradores. Chris Patnode, que mora em um dos cortiços locais, pareceu disposto a saudar possíveis turistas -desde que eles saibam quando bater à porta.
"Não haveria problema durante o dia", disse Patnode, 48. "Mas ninguém vai querer vir para cá à noite. Nem eu tenho vontade de estar aqui à noite -e estou morando aqui."


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