São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Contrabandistas violam sanção ao Irã

Por SAM DAGHER

PENJWIN, Iraque - Enquanto os EUA impõem novas sanções ao Irã, uma das maiores lacunas na estratégia americana está à vista de todos no Iraque, onde centenas de milhões de dólares em petróleo bruto e produtos refinados são contrabandeados anualmente pelas belas montanhas do Curdistão iraquiano.
Dia após dia, sem autorização formal de Bagdá, mais de mil caminhões-tanque serpenteiam por Penjwin, cidade na fronteira do Iraque com o Irã, não só violando as recentes sanções americanas, mas também agravando as tensões com o governo do Iraque a respeito de como partilhar os dividendos do petróleo do país.
A escala e a organização desse comércio preocupam as autoridades americanas no Iaque. Elas temem que o lucro esteja indo para políticos corruptos do Iraque, além de beneficiar o governo do Irã.
Um funcionário curdo de alto escalão disse que os dividendos de um negócio que ele descreveu como "elaborado" e "enorme" se destinavam aos dois partidos que governam a região e a empresas afiliadas, e que havia envolvimento também de autoridades e políticos em Bagdá.
"As pessoas estão sendo lesadas, mas não sabemos por quem", disse Hamid Mohammed, motorista de um caminhão-tanque que esperava recentemente para entrar no Irã.
Os curdos são aliados tradicionais dos EUA. O contrabando de petróleo e outros produtos ao longo da porosa fronteira iraquiana prosperou na década de 1990, quando o Iraque estava sob sanções internacionais.
Já a natureza semioficial do atual comércio mostra como interesses empresariais se sobrepõem à confusa política do Iraque e da região.
O fluxo de caminhões-tanque na fronteira continuou sem interrupções durante uma campanha militar iraniana no mês passado, contra separatistas curdos do Irã que operam na região.
Centenas de caminhões, cada um com capacidade para pelo menos 27 mil litros de petróleo ou produtos refinados, entram diariamente no Irã por Penjwin e por dois outros postos fronteiriços do Curdistão iraquiano, segundo autoridades curdas.
A maior parte dos produtos refinados é usada no Irã, enquanto o petróleo bruto segue de caminhão até os portos de Bandar Bushehr, Bandar Imam Khomeini e Bandar Abbas, onde é colocado em reservatórios ou navios, segundo os caminhoneiros.
O negócio é apoiado por cerca de 70 minirrefinarias, segundo o ministro regional do Petróleo do Curdistão, Ashti Hawrami. Elas ficam espalhadas pelo Curdistão e por áreas controladas por curdos nas Províncias de Kirkuk e Nineveh, disse ele, e muitas são clandestinas.
Abdul-Karim al Luaibi, vice-ministro iraquiano do Petróleo, afirmou não estar ciente da exportação de petróleo do Curdistão para o Irã e acrescentou que todas as minirrefinarias são ilegais. As autoridades curdas, disse, "detêm a responsabilidade por isso".
Numa rara entrevista em maio, Hawrami disse que apenas óleo combustível e subprodutos como nafta estão sendo exportados ao Irã após processamento do petróleo bruto extraído na região em duas refinarias privadas, para atender às necessidades do mercado interno e movimentar uma usina termoelétrica local.
Hawrami disse que os negócios com o Irã ajudam a cobrir os custos para as empresas petrolíferas estrangeiras no Curdistão, prejudicadas quando pararam de exportar petróleo bruto por meio de um oleoduto para a Turquia, em outubro, devido a uma disputa entre o Curdistão e Bagdá.
Ele disse que todo dividendo adicional está sendo mantido em separado das finanças do governo curdo e sendo depositado numa conta bancária à parte, para no futuro ser dividido com Bagdá, quando as duas partes resolverem suas diferenças.
Mas Hawrami disse também que não são só os derivados de petróleo da região curda que estão indo parar no Irã. Segundo ele, petróleo bruto e produtos refinados de Kirkuk e da refinaria Baiji, ao sul, também estão sendo contrabandeados para a região, e uma parte cruza a fronteira para o Irã. Ele disse que seu ministério não tem controle sobre isso.
"Um caminhão é um caminhão -fácil demais de produzir uma licença e dizer: 'Isso é óleo combustível, e não petróleo bruto', e conseguem passar", disse Hawrami. "Infelizmente, o problema é muito mais amplo do que o pequeno Curdistão."
Analistas dizem que o comércio petrolífero do Curdistão com o Irã gera dividendos que os curdos não precisam dividir com Bagdá, ao menos por enquanto, diminuindo sua dependência em relação às exportações para a Turquia.


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