São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2011

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LENTE

Pequenas cidades, grandes sonhos

Cidades lutam por sua existência

Enquanto a globalização vem empurrando boa parte da população mundial para os grandes centros urbanos, cidades menores lutam para sobreviver e prosperar.
O experimento social que é a La Courneuve, comunidade construída para imigrantes na periferia oeste de Paris, está passando por mais uma encarnação. Os enormes conjuntos habitacionais cinzentos erguidos no início dos anos 1960, baseados na filosofia arquitetônica de Le Corbusier -que previa que áreas residenciais fossem separadas de estradas e locais de trabalho- estão sendo demolidos.
Algo que foi anunciado como uma utopia acabou revelando-se um pesadelo para os franceses, com altos índices de criminalidade, tráfico de drogas escancarado, escolas pobres e desemprego alto. Agora os edifícios de 16 andares e 200 metros de extensão estão sendo substituídos por grupos menores de unidades habitacionais, dentro do plano governamental de US$60 bilhões para modernizar os bairros mais inclementes da França, como noticiou o "New York Times".
"Não estão construindo shopping centers, não estão gerando empregos para os jovens", disse um morador ao NYT. "Isto não vai resolver nossos problemas."
Os problemas de Filettino, na Itália, não são suas construções medievais ou um excesso de imigrantes.
Faltam pessoas na cidade. A contagem mais recente revelou apenas 598 moradores.
Um plano de austeridade aventado em Roma prevê que cidades com menos de mil habitantes se fundam com as cidades vizinhas, para reduzir custos administrativos. Luca Sellari, o prefeito de Filettino, propõe que seu vilarejo, situado nas colinas a leste de Roma, se torne independente, com seu próprio monarca, reportou o "New York Times".
"Se isso é o que é preciso para manter a autonomia da cidade e proteger seus recursos naturais", disse Sellari ao NYT. "Ser príncipe é o sonho de todo o mundo."
A proposta de converter Filettino em principado autônomo vem atraindo a atenção da mídia global, e no início do mês a cidade imprimiu sua própria moeda -com o busto de Sellari no verso-, para uso em lojas e para ser vendido como suvenir a turistas, que chegam em número maior.
Huaxi, vilarejo de 2.000 pessoas situado a algumas centenas de quilômetros a nordeste de Xangai, tem um plano ainda mais ousado para atrair turistas: um edifício de 74 andares que vai triplicar a área total da cidade. Dois milhões de turistas vão visitar a cidade anualmente, segundo o NYT, e seus gastos vão enriquecer os habitantes.
Os moradores de Huaxi, que se descreve como uma utopia comunista idealizada por Mao, são donos de uma parte do arranha-céu -e também da usina siderúrgica da cidade, de sua fábrica têxtil, do complexo de estufas, da empresa de transportes marítimos e outros empreendimentos. O lugar, que na década de 1980 era uma cidade agrícola pequena, hoje é um exemplo de investimento sagaz.
Embora a cidade atribua seu sucesso à devoção ao socialismo, seu modelo econômico é mais parecido com o de uma corporação capitalista à moda antiga, administrada por acionistas que vivem dos dividendos, enquanto empregam milhares de trabalhadores que residem fora dos limites da cidade, escreveu o NYT.
"Isso é o que se chama exploração" disse Fei-Ling Wang, professor do Instituto de Tecnologia da Geórgia e estudioso de Huaxi.
"Isso porque os trabalhadores de fora da cidade não podem, por lei, tornar-se residentes locais. Não podem compartilhar os frutos de seu trabalho. Eles recebem salários; se perdem seus empregos, são mandados para casa."
"Se todos os migrantes fossem tratados como membros plenos da comunidade, Huaxi não funcionaria."

TOM BRADY

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