São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2011

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

À caça de Madoff, em vão

Por PETER LATTMAN
Em 2000, Harry M. Markopolos fez uma apresentação para um importante advogado na Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. O tema: a Bernard L. Madoff Securities. Ele deu uma explicação bombástica para o sucesso da firma.
"O fundo inteiro não passa de esquema de pirâmide", escreveu Markopolos, então administrador de fundos em Boston, em sua petição ao órgão.
Oito anos depois, Madoff confessou. Entre as subtramas mais surpreendentes da saga Madoff estão as tentativas de Markopolos para denunciar a fraude e os esforços canhestros da SEC para encobri-la.
Chasing Madoff (Perseguindo Madoff), um documentário lançado na América do Norte em agosto, acompanha a saga de Markopolos para denunciar Madoff. O filme se baseia em seu livro de memórias de 2010 "No One Would Listen" (Ninguém quis escutar).
Markopolos, 54, discutiu o filme e suas atividades.

R. O filme recria cenas em que o senhor está portando armas, verificando se há bombas e usando colete à prova de balas. O senhor parecia paranoico de que Madoff ou seu pessoal pudessem matá-lo.
R. Bem, não é paranoia. O senhor investiga fraudes de colarinho-branco? Eu sim. Os agentes do FBI portam armas? Usam. Por quê? Por via das dúvidas, e é por isso que eu porto uma arma. Bernie estava jogando um jogo muito perigoso. Quando eu falei com o agente do FBI encarregado do caso, ele me disse: "Harry, por um dinheiro desses, tantos bilhões, coisas ruins acontecem com as pessoas, e você tem muita sorte".

R. E quando o senhor espreitava nas sombras durante um discurso de Eliot Spitzer, o ex-secretário de Justiça do estado de Nova York? O senhor colocou luvas para entregar um arquivo de Madoff para um assessor de Spitzer?
R. Sim, eu não queria deixar impressões digitais nele. Foi uma entrega anônima. Meus gêmeos estavam prestes a nascer, tive medo. Spitzer estava saindo correndo pela porta dos fundos para pegar uma carona até o aeroporto, por isso não sei se ele recebeu aqueles documentos. Eu falei com Eliot tomando uns drinques algumas semanas atrás. Ele disse que não recebeu.

P. O que o senhor diria sobre a SEC hoje?
R. É embaraçoso, e a SEC precisa parar de atirar no próprio pé em todas as oportunidades. Eles precisam começar a tratar de grandes casos. Eu acho que são capazes disso, e o provaram com o acordo de US$ 550 milhões do Goldman Sachs. Eles mandaram centenas de pessoas embora para se tornar auditores de fraudes certificados. Então eles percebem que estão no negócio de combate a fraudes.

P. Há alguma coisa que o decepcionou no documentário?
R. Sim. No filme, meu garoto disse que a SEC era má e deveria ser presa. Mas eles não foram corruptos. Eles foram incompetentes, o que na verdade é muito pior.

P. Qual a sensação de ser famoso pela...
R. Pela maior investigação fracassada da história? É duro.

P. E que fraudes o senhor está denunciando hoje em dia?
R. Aquelas de que eu posso falar? Descobri que dois bancos de custódia, Bank of New York e State Street, estavam roubando centenas de milhões por ano de fundos de pensão nos mercados monetários, ao modificar as datas dos negócios e escolher preços inadequados. [O Bank of New York e o State Street negaram essas alegações, que são o tema de processos civis abertos por um grupo de cidadãos]

P. O senhor tentou entrar em contato com Madoff?
R. Eu não me incomodei. Em suas entrevistas na prisão, ele diz o quanto me odeia, o que é o maior elogio que eu poderia receber como um auditor.


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