São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2011

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Nordeste do Brasil vive explosão de violência

Por ALEXEI BARRIONUEVO
SALVADOR, Brasil - A recente onda de prosperidade econômica no Brasil está fazendo com que a violência associada às drogas migre do Rio de Janeiro, de São Paulo e de outros lugares tradicionalmente associados a tiroteios e sequestros para o Nordeste, a região mais beneficiada pelos programas de transferência de renda, amplamente difundidos no país durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Se o mercado consumidor está crescendo, o traficante de drogas virá para cá também", disse o governador da Bahia, Jaques Wagner. "O progresso social no Brasil é visível. Mas, ao mesmo tempo, ainda temos problemas com o tráfico de drogas e com o desrespeito pela vida humana."
Por isso as autoridades baianas estão copiando uma iniciativa do Rio e criando unidades policiais permanentes em áreas violentas usadas por narcotraficantes.
O índice de homicídios no Nordeste quase duplicou entre 1999 e 2009, fazendo com que essa se torne a região mais violenta do Brasil, segundo um estudo realizado por José Maria Nóbrega, professor de ciência política da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba.
Salvador, assim como outras cidades, se prepara para receber a Copa do Mundo de 2014. As polícias comunitárias que estão sendo criadas aqui são semelhantes às UPPs (unidades de polícia pacificadora) que o Rio tem adotado -com grande alarde e polêmica- desde 2008. (Entre 1999 e 2009, a taxa de homicídios no Rio e em outras cidades do Sudeste brasileiro caiu 47%.)
Agências de viagens se dizem preocupadas com o aumento da violência nas favelas da Bahia -e também com os pequenos roubos cometidos por viciados em drogas no Pelourinho, o pitoresco centro histórico de Salvador que é um dos principais pontos turísticos da cidade.
"Salvador, neste momento, não está de forma alguma preparada para a Copa do Mundo, e eles estão começando a perceber isso", disse Paul Irvine, diretor da agência de turismo Dehouche, do Rio, que organiza viagens para ambas as cidades.
Wagner minimizou tais afirmações, lembrando que todos os anos mais de 1 milhão de pessoas ocupam as ruas de Salvador durante o carnaval, com 22 mil policiais garantindo sua segurança.
"Passamos quatro anos sem um homicídio no percurso dos trios elétricos", disse ele. "Para mim, a preparação da polícia para a Copa do Mundo não será problema algum."
No Nordeste, prevalece a tradição de resolver os conflitos por conta própria, com letal impunidade. O porte de armas de fogo entre sitiantes também favorece o cenário. Mas o avanço desenfreado do tráfico de drogas tem piorado muito a situação.
O bairro de Nova Constituinte, na periferia de Salvador, tem sido assolado nos últimos cinco anos por uma série de assassinatos relacionados ao tráfico.
Gildásio Oliveira Silva contou que traficantes já tentaram em duas ocasiões matar o seu filho adolescente, viciado em crack, porcausa de dívidas.
Em dezembro passado, disse ele, os traficantes balearam a sua mulher, Ana Maria Passos Assis, 39, que estava limpando o banheiro da pequena loja de conveniência de Silva, na avenida principal de Nova Constituinte.
"A violência piorou aqui", disse Silva, 68, que é ex-policial. "E tudo está relacionado às drogas."
Desde sua posse, em 2007, Wagner promete fortalecer a polícia e tenta controlar a onda de violência. Nos últimos quatro anos, ele contratou 7.000 novos policiais, e já autorizou mais 3.500 para serem mobilizados este ano.
O governo do Estado inaugurou a primeira unidade de polícia comunitária em Calabar, um bairro pobre cercado por prédios mais sofisticados.
Outras três unidades de policiamento comunitário estão previstas para serem abertas durante o próximo ano perto de Nova Constituinte.
Os agentes que estão sendo selecionados são na maioria novatos, numa tentativa de eliminar a corrupção e a agressividade de alguns policiais antigos.
Contra as críticas de que a polícia tem dificuldades para esclarecer crimes, o governo da Bahia instituiu neste ano um departamento exclusivo para investigações de homicídio, com 150 policiais no efetivo.
Entre os desafios desse novo órgão está o combate a grupos de extermínio compostos por policiais "justiceiros", suspeitos de dezenas de assassinatos, segundo Arthur Gallas, diretor do departamento de homicídios.
Desde abril, quando a unidade de polícia comunitária de Calabar começou a funcionar, com 120 policiais, nenhum homicídio foi registrado por lá, segundo a capitão Maria de Oliveira Silva, que comanda a unidade.
"Nos últimos três anos, a gente não passava um mês sem que alguém fosse morto aqui", disse Lindalva Reis, 58, que mora em Calabar há 38 anos.

Myrna Domit contribuiu com reportagem de São Paulo



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