São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2011

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Paciente monitorado, mas sem os fios

Sensores podem reduzir risco de ataque cardíaco

Por RANDALL STROSS
Confinado ao leito hospitalar, resta ao paciente apenas sonhar em se livrar de todos os fios que o liga aos monitores.
Mas, suponha que todos esses eletrodos fossem consolidados em uma só peça, quase invisível e sem peso, tão fina quanto uma tatuagem adesiva. E suponha que um pequeno radiotransmissor eliminasse os fios.
A "eletrônica epidérmica" - termo cunhado por pesquisadores que já produziram protótipos na Universidade de Illinois- permite um monitoramento médico constante, em qualquer lugar.
Esses dispositivos são parte de um campo em expansão, chamado "mHealth" ("saúde-M"), que usa tecnologias móveis.
"O 'mHealth' administra as condições continuamente, para que não cheguem a uma crise", diz Donald Casey, executivo-chefe do Instituto do Oeste de Saúde Sem Fios, com sede em San Diego, Califórnia.
A tecnologia está avançando rapidamente. No ano passado, por exemplo, a empresa Corventis recebeu aval das autoridades para comercializar o seu Sistema Móvel Nuvant de Telemetria Cardíaca, que serve para detectar arritmias. Um equipamento de 5 x 15 cm colocado sobre o peito do paciente envia um eletrocardiograma a um transmissor nas proximidades, que o retransmite para uma central de monitoramento.
"Colocar sensores em todo mundo, inclusive em um homem de 60 anos que está vendo um jogo de futebol e não sabe que corre o risco de infarto, reduziria enormemente as chances de um ataque cardíaco fatal", disse a cardiologista Leslie Saxon, da Universidade da Califórnia.
Nem todas essas tecnologias transmitem dados sem fios. Os adesivos que Saxon usa em um estudo armazenam dados internamente; a informação é carregada para um computador ao final do estudo. Em outros casos, a tecnologia foi aprovada apenas para ambientes hospitalares.
Uma pesquisa sobre a tecnologia da eletrônica epidérmica, feita pela Universidade de Illinois sob o comando do professor de engenharia John Rogers, foi publicada no mês passado na revista "Science". Enquanto o monitor adesivo da Corventis pesa 51 gramas, a versão ultrafina criada em Illinois tem apenas 85 miligramas.
Rogers é cofundador da MC10, uma empresa eletrônica de Massachusetts que tem como objetivo transformar o protótipo de monitor epidérmico em um produto comercial até 2013.
David Icke, executivo-chefe da MC10, disse que o dispositivo da companhia, semelhante à pele, consiste em pequenos componentes conectados por uma espécie de serpentina, capaz de ser dobrada e puxada sem se romper. Teoricamente, a tecnologia pode ser usada dentro do corpo ou sobre a pele.
Monitorar eletronicamente os pacientes dentro das suas casas pode reduzir significativamente os custos hospitalares.
Em um estudo do Departamento de Assuntos dos Veteranos dos EUA, publicado em 2008, pesquisadores acompanharam pacientes com doenças graves, incluindo a insuficiência cardíaca congestiva, entre 2003 e 2007.
Pacientes inscritos em um programa de "telessaúde doméstica" receberam dispositivos biométricos para monitorar seus sinais vitais. Estes pacientes tiveram uma redução de 25% na quantidade de dias que passavam acamados e de 19% nas internações hospitalares em comparação ao período em que não estavam participando do programa.
O custo médio anual de US$ 1.600 por paciente foi muito inferior aos US$ 13.121 gastos pelo Departamento de Veteranos para fornecer atendimento domiciliar primário sem o componente "tele", e mais ainda em relação aos US$ 77.745 gastos anualmente com pacientes que precisavam de serviços de enfermagem domiciliar.
Apesar disso, relativamente poucos pacientes estão sendo monitorados com as tecnologias já existentes no mercado.
Um obstáculo, segundo Chuck Parker, diretor-executivo da Continua Health Alliance, entidade setorial do "mHealth", é a falta de incentivo financeiro. Ele disse que os hospitais têm "algum medo das implicações financeiras" para as suas próprias operações.
Chantal Worzala, diretora de tecnologia de informação da saúde na Associação Americana de Hospitais, discordou, dizendo que "a grande maioria dos pacientes cardíacos são maiores de 65 anos", estando portanto cobertos pelo Medicare (sistema público de saúde para idosos dos Estados Unidos).
Apesar dos obstáculos, os defensores do "mHealth" estão otimistas. "Se a tecnologia funcionar como promete", diz Casey, "acreditamos que iremos passar dos sensores em pessoas diagnosticadas com uma doença para literalmente todo mundo".


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