São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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Tecnologia ajuda cegos a enxergar

Por PAM BELLUCK

A cegueira começou a se apossar de Barbara Campbell na adolescência, e antes dos 40 anos ela já havia perdido totalmente a visão.
Dependendo de um computador com áudio para ler e de uma bengala para andar por Nova York, onde vive e trabalha, Cambpell, 56, ficaria emocionada por ver alguma coisa. Qualquer coisa.
Agora, ela consegue. Campbell está entrando num projeto intensivo de pesquisa, de três anos, que envolve a implantação cirúrgica de eletrodos nos olhos, uma câmera sobre o nariz e um processador de vídeo na cintura.
O projeto, a retina artificial, inclui pacientes em EUA, México e Europa e é parte de uma onda de recentes pesquisas destinadas a fazerem cegos enxergarem.
Alguns dos 37 outros participantes em etapas mais avançadas já conseguem distinguir entre pratos e xícaras, entre grama e calçada, entre meias brancas e escuras, entre portas e janelas, identificar letras grandes e ver onde as pessoas estão, embora não com detalhes.
“Para alguém que é totalmente cego, isso é notável”, disse Andrew Mariani, diretor de um programa no Instituto Nacional dos Olhos.
Os cientistas planejam desenvolver tecnologias que permitam às pessoas ler, escrever e reconhecer rostos. Outras abordagens para ajudar os cegos incluem a terapia genética e a pesquisa com células-tronco, que é considerada promissora, embora longe de produzir resultados. Os estudos também envolvem uma proteína sensível à luz e transplantes de retina.
Em outro projeto, o BrainPort, uma câmera usada por um cego captura imagens e transmite sinais para eletrodos inseridos sobre a língua, produzindo um certo tremor que a pessoa pode aprender a decifrar como a localização ou o movimento de objetos.
A retina artificial de Campbell funciona de forma similar, só que produz a sensação de visão, e não um tremor na língua. Desenvolvida por Mark Humayun, cirurgião de retina da Universidade do Sul da Califórnia, ela se baseia nos implantes cocleares para os surdos.
Com a retina artificial, uma folha de eletrodos é implantada no olho. A pessoa usa óculos com uma pequena câmera, que captura imagens que o processador de vídeo traduz em padrões de luz e sombra. O processador de vídeo orienta cada eletrodo a transmitir sinais representando os contornos, o brilho e o contraste de um objeto, os quais pulsam ao longo dos nervos ópticos para dentro do cérebro.
Atualmente, “é uma imagem muito crua”, disse Jessy Dorn, cientista do Sight Medical Products, que fabrica o dispositivo.
Campbell gostaria especialmente de ver cores, mas qualquer cor seria um clarão aleatório, disse Aries Arditi, pesquisador sênior de ciências da visão da ONG Lighthouse International.
Ela viu luzes circulares em um restaurante, parte de uma instalação luminosa em uma exposição de arte. “Há muito que aprender”, disse ela. Ainda assim, “estou realmente vendo isso”, comemorou.


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