São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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ARTE & ESTILO

Diretor quer repensar e modernizar o museu do Louvre


Missão inclui tentar levantar mais fundos fora da França

Por CAROL VOGEL

PARIS — Em um espaço subterrâneo muito abaixo dos turistas que lotam a famosa pirâmide do Louvre estão os resquícios de uma fortaleza medieval. Ali, percorrendo uma passagem de arenito do século 12, o artista americano Joseph Kosuth está prestes a suspender 15 frases escritas em gigantescos tubos de néon branco.
Intitulada “Nem Aparência Nem Ilusão”, a mostra, que abre neste mês, será a primeira de Kosuth, 64. “A chance de apresentar um trabalho no Louvre só aparece uma vez na vida”, disse.
Outra parte do museu, a Sala dos Bronzes, do século 19, será conhecida dentro em breve não apenas por sua magnífica coleção de bronzes antigos, mas também pelo teto, que será pintado por outra figura famosa da arte americana: Cy Twombly.
Parece haver uma infusão de muitos elementos americanos no Louvre ultimamente. Além de ver instalações de artistas contemporâneos de destaque, também é possível ouvir escritores americanos, como Toni Morrison, ou assistir a performances do coreógrafo e bailarino Bill T. Jones.
“Não estou fazendo nada de novo, na realidade”, disse o diretor do Louvre, Henri Loyrette, enquanto percorria as galerias do museu numa manhã recente. “Estou só tentando reviver uma tradição.”
Loyrette —que chegou ao Louvre em 2001— se referia a 1953, quando Georges Braque decorou o teto de uma galeria que foi no passado a antecâmara do rei Henrique 2°. Desde então, o Louvre tem focado principalmente abrilhantar a reputação de artistas mortos, e não promover artistas novos —especialmente se estes são americanos.
Independentemente de seus métodos e motivações, o que parece claro é que Loyrette, com grandes planos para ampliações do museu, franquias por satélite e novas parcerias que teriam sido inusitadas há dez anos, está à frente do processo mais drástico de repensar o lugar e o objetivo do Louvre deslanchado em pelo menos 20 anos. Vale lembrar que foi em 1989 que I. M. Pei concluiu a então polêmica pirâmide de vidro instalada no pátio de entrada do museu.
Loyrette também anda percorrendo o mundo de uma maneira que muitos poderiam descrever como tipicamente americana, usando o nome e o acervo do Louvre para levantar fundos em pontos tão distantes quanto Atlanta e Abu Dhabi.
Sua abordagem não agrada a todos, o que não surpreende. Críticos veem a ideia de criar uma “marca” Louvre como ao mesmo tempo crassa e desnecessária, desdenhando especialmente a busca de recursos que Loyrette vem fazendo fora da França. Seus defensores dizem que ele está apenas fazendo o que qualquer diretor de museu precisa, hoje em dia, para estabilizar financeiramente a instituição. Quando ao próprio Loyrette, ele afirma que está simplesmente “modernizando o museu”.
Loyrette, 57, não aparenta estar arcado sob o peso do acervo artístico mais valorizado do mundo. Aparentemente, o que o preocupa são os detalhes. “Se você quiser ver tudo o que há no Louvre, terá que caminhar 14 km”, observou. Além disso, notou, “40% de nossos visitantes têm menos de 26 anos”.
O maior desafio de Loyrette talvez seja o próprio Louvre. Se o número de visitantes continuar a crescer no ritmo recente, dentro de cinco anos haverá 10 milhões de visitantes por ano passando por uma entrada projetada para receber menos de metade disso. Mesmo agora já há engarrafamentos na pirâmide projetada por I. M. Pei, formados por filas de visitantes esperando para entrar. Loyrette contou que pediu à equipe de Pei que reconfigure o espaço interior.
Outro fato que preocupa é que a imensa maioria dos visitantes vem para ver apenas uma obra de arte, ou, no máximo, três. “Todo o mundo quer ver as mesmas três coisas: a Mona Lisa, a Vênus de Milo e a Vitória Alada”, se queixa o diretor.
Para chamar a atenção do público para o resto do acervo, Loyrette lançou recentemente um novo guia em áudio destacando outras obras de arte. Com essa mesma finalidade em vista, ele continua a assegurar que trabalhos de arte contemporânea sejam instalados em todo o museu, com sutileza.
Mas sua contribuição mais notável provavelmente será a ala instalada ao custo de US$ 67 milhões para abrigar a coleção primorosa de arte islâmica do Louvre, coisa que nenhum diretor anterior do museu tinha tentado fazer.
Loyrette lembra que, antes de ser convertido em museu, em 1793, o Louvre era um palácio. E ele o trata como se fosse sua casa. “Passo todos os domingos aqui”, conta. Em cada visita ele inspeciona um grupo diferente de galerias.
“Levo um mês para percorrer o museu inteiro”, contou. “Cézanne disse certa vez que ‘o Louvre é o livro com o qual aprendemos a ler’. É a mesma coisa para mim.”


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