São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

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Programador tenta lucrar com iPhone

Por JENNA WORTHAM

Existe uma boa maneira de conseguir uma renda estável nesta economia recessiva? Experimente um bom programa para o iPhone.
Em agosto passado, Ethan Nicholas e sua mulher, Nicole, estavam com dificuldades para pagar sua hipoteca. As contas médicas do nascimento de seu filho mais novo se acumulavam. Depois que soube que a empresa em que trabalhava, a Sun Microsystems, ia suspender os bônus dos funcionários para este ano, Nicholas pensou em procurar um novo emprego e vender sua casa em Wake Forest, na Carolina do Norte (EUA).
Então lembrou que tinha lido sobre um sujeito que ganhara US$ 250 mil rapidamente desenvolvendo um videogame chamado Trism para o iPhone. “Pensei que se conseguisse ganhar uma fração disso poderíamos pagar nossas dívidas”, ele disse.
Apesar de já ter anos de experiência em programação, Nicholas, 30, nunca tinha construído um jogo em Objective-C, a linguagem de codificação do iPhone. Ele procurou na internet dicas e guias informais e os utilizou para descobrir como usar o kit de desenvolvimento de software do iPhone que a Apple publica.
Como ele cresceu jogando videogames violentos, decidiu escrever um jogo de artilharia. Desenhou alguns gráficos e comprou fotos e arquivos de áudio baratos.
Durante seis semanas ele trabalhou “de manhã à noite” —de dia em seu emprego na equipe de desenvolvimento de Java na Sun e depois do expediente em seu projeto secundário. À noite Nicholas substituía a mulher cuidando dos dois filhos, às vezes escrevendo febrilmente em seu computador com uma das mãos enquanto com a outra balançava o bebê Gavin ou segurava seu irmão Spencer no colo.
Depois que o projeto ficou pronto, Nicholas o mandou para a aprovação da Apple, rapidamente concedida, e o iShoot foi lançado na loja on-line da Apple em 19 de outubro.
Quando ele verificou sua conta com a Apple para ver quantas cópias do jogo tinham sido vendidas, o queixo de Nicholas caiu: no primeiro dia o iShoot vendeu cópias suficientes a US$ 4,99 cada para lhe dar uma renda líquida de US$ 1 mil. Ele e Nicole praticamente saíram “dançando na rua”, disse.
No segundo dia sua parte das vendas diárias foi de aproximadamente US$ 2 mil. No terceiro, o número caiu para US$ 50, onde ficou durante as semanas seguintes. “Não é nada para chorar, mas eu me perguntava se poderíamos vender mais”, disse Nicholas.
Em janeiro ele lançou uma versão gratuita do jogo com menos funções, esperando incentivar as vendas da versão paga. Funcionou: o iShoot Lite foi baixado mais de dois milhões de vezes e muitas pessoas fizeram a atualização para a versão paga, que agora custa US$ 2,99. Em seu melhor dia —11 de janeiro—, o iShoot vendeu quase 17 mil cópias, o que significou US$ 35 mil em um dia para Nicholas.
“Foi quando eu liguei para meu chefe e disse: ‘Precisamos conversar’”, contou Nicholas. “Eu deixei meu emprego.”
Para as pessoas que sabem um pouco sobre códigos de computador, histórias como esta são tentadoras. Os primeiros iPhones saíram em junho de 2007, mas foi só em julho de 2008 que as pessoas puderam comprar programas feitos por gente de fora, que foram lançados em um mercado on-line —chamado App Store— juntamente com o novo iPhone 3G.
Hoje há mais de 25 mil programas, ou aplicativos, na iPhone App Store, muitos deles escritos por pessoas como Nicholas. Mas as probabilidades de acertar o grande prêmio do iPhone são cada vez menores: a loja Apple está lotada de jogos e aplicativos parecidos, e novos programas chegam diariamente.
E para cada iShoot, que rendeu a Nicholas US$ 800 mil em cinco meses, “há centenas ou milhares que colocam todo o seu esforço para criar algo que é simplesmente ignorado na loja”, disse Erica Sadun, uma programadora e autora do “Livro de Cozinha do Desenvolvedor do iPhone”.
As probabilidades não impediram que as pessoas corressem para aulas e conferências sobre criação de programas para o iPhone. Na Universidade Stanford, na Califórnia, um curso chamado Ciência da Computação 193P: Programação de Aplicativos para iPhone atraiu 150 alunos para apenas 50 vagas quando foi lançado, no final do ano passado.
Enquanto o iShoot nunca será o próximo Google ou Facebook, é o tipo de programa que as pessoas com pouca experiência consideram dentro de seu alcance.
“Mesmo que você não seja um guru da programação, ainda pode fazer algo e potencialmente ter um grande sucesso”, disse James Katz, diretor do Centro de Estudos de Comunicações Móveis na Universidade Rutgers, em Nova Jersey.
Quanto a Nicholas, está negociando para adaptar o iShoot para outros sistemas além do iPhone e diz que investidores e grandes companhias de videogames o procuraram para financiar sua segunda iniciativa. Ele também está em pleno modo inventor, trabalhando em um novo jogo que não quer descrever com medo de que outro desenvolvedor possa roubá-lo.
“Vou aproveitar a corrida do ouro enquanto puder”, disse Nicholas. “Seria burrice não fazer isso.”


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