São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Banda latina reconquista seu espaço


O cenário musical mudou, mas o som do Los Cadillacs permanece

Por LARRY ROHTER

É quase como se eles nunca tivessem desaparecido. Dez anos após o lançamento de sua última gravação inédita, Los Fabulosos Cadillacs, possivelmente o mais inovador grupo de rock cantado em espanhol dos anos 1990, está de volta: fazendo turnê outra vez, apresentando-se em estádios, aparecendo novamente na MTV e lançando um novo CD.
Na verdade, a única verdadeira surpresa provocada pelo retorno dos Cadillacs talvez seja o fato de a banda argentina ter sumido das vistas do público. A banda estava no auge de sua popularidade na América Latina e já conquistava fãs nos EUA quando simplesmente parou de gravar e de se apresentar. Não houve sinais visíveis de desentendimentos internos, nenhum anúncio de uma separação ou de um tempo —apenas um silêncio repentino.
“Tínhamos passado 17 anos juntos, sem parar. Não tivemos nenhuma briga ou ruptura grande, como o Pink Floyd”, contou o baixista da banda e um de seus principais compositores, Flavio Cianciarulo. “Simplesmente estávamos exaustos.”
Em sua época áurea, o Los Fabulosos Cadillacs era uma banda pioneira, e apenas porque sua música misturava ska, punk, reggae, salsa e funk de maneiras inusitadas. Tendo sido rapidamente adotada pela MTV Latina assim que o canal entrou no ar, em 1993, os Cadillacs exibiram uma série de vídeos poderosos carregados de imagens políticas e gravaram o primeiro “Acústico” da MTV Latina, o que ajudou a fazer deles uma das primeiras bandas de rock “en español” a ganhar popularidade em toda a América Latina.
Mas seus seis integrantes de base estão retornando para uma paisagem musical que passou por mudanças tremendas enquanto a banda esteve dormente. Além das condições econômicas e de tecnologia diferentes da indústria musical atual, hoje o mercado de música latina é dominado por gêneros que mal existiam em 1999 ou cuja importância era mínima na época, como o reggaetón e a cumbia.
Com qualquer outro grupo esse fato poderia levantar dúvidas quanto a sua capacidade de continuar relevante. Mas a abordagem de misturar e equilibrar dos Cadillacs parece ter salvado a banda desse destino: desde que voltou à estrada, no ano passado, ela vem lotando estádios de Buenos Aires à Cidade do México, atraindo multidões de até 60 mil pessoas.
“Musicalmente falando, eles estavam muito adiante de seu tempo”, comentou José Tillán, vice-presidente de música da MTV Latina. “O que é o reggaetón senão um derivativo de um ritmo caribenho que eles já tocavam? Então presumo que eles possam agradar mais a toda a moçada que hoje ouve esses tipos de música novos.”
Durante seu longo afastamento dos palcos, a maioria dos membros da banda continuou a fazer música, às vezes uns com os outros e com frequência em pequenos clubes na região de Buenos Aires. Flavio Cianciarulo, além disso, escreveu dois livros e comandou um programa de rádio.
O vocalista do grupo e seu outro compositor principal, Gabriel Fernández Capello, o Vicentico, virou uma espécie de crooner de música tropical e foi provavelmente o membro da banda que teve a carreira solo mais bem-sucedida em termos comerciais. O saxofonista Sergio Roitman se mudou para Porto Rico, onde mergulhou mais fundo em estilos caribenhos.
Assim que os integrantes da banda tomaram a decisão de tocar juntos novamente, foram atingidos por uma tragédia. Em março do ano passado, o percussionista Gerardo Rotblat morreu repentinamente de edema pulmonar, aos 38 anos.
“Ficamos devastados e pensamos em desistir de tudo. Mas optamos pelo outro caminho e dissemos ‘vamos fazer, não apenas por ele mas por nós. Vamos usar essa tragédia como estímulo e fazer tudo com o dobro do esforço e do pique, porque Gerardo merece’”, contou Cianciarulo.
A primeira gravação das sessões que se seguiram é intitulada “La Luz del Ritmo” (Nacional Records). O título é uma homenagem a Rotblat. Um segundo CD feito nas mesmas sessões deve ser lançado ainda este ano e será intitulado “El Ritmo de la Luz”.
Para ajudá-los a retomar o pique, os membros da banda procuraram o engenheiro e produtor americano Robert Carranza, ganhador de Grammy. Carranza, que já trabalhou com Beastie Boys, Jack Johnson e Björk, entre outros, disse que fez um esforço para arrancar os Cadillacs da “zona de conforto” deles. Ele insistiu que tocassem canções inteiras juntos na mesma sala, “em lugar de fazer as coisas aos pedaços, como eles gostam”, e incentivou os integrantes a tocar instrumentos diferentes de seus instrumentos usuais, “para que cada ideia seja experimentada”.
Sob outros aspectos, porém, “La Luz del Ritmo” representa um retorno às raízes da banda. “O mais importante é que estamos mais maduros e não achamos que temos que provar nada para ninguém”, disse Vicentico. “Se não queremos fazer uma coisa, não fazemos. Não temos problema nenhum em dizer ‘não’.”


Texto Anterior: O futuro multimídia do mundo dos livros
Próximo Texto: Ensaio: Polônia examina tempos de antissemitismo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.