São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 2011

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Empresas americanas abrem capital fora do país

Por GRAHAM BOWLEY
Reva Medical, fabricante de stent (prótese metálica) cardíaco em San Diego, na Califórnia, encontrou poucos investidores interessados quando tentou lançar uma oferta pública inicial de ações no ano passado -por isso, fez o que um pequeno, mas crescente número de jovens empresas americanas está fazendo, considerando Bolsas de outros países. No caso da Reva, a da Austrália.
"Há muitas empresas que necessitam de capital como a nossa, e elas não têm acesso aos mercados de capitais nos EUA", disse Robert Stockman, executivo-chefe da Reva. "As pessoas estão considerando qualquer opção de sobrevivência, exatamente o que fizemos."
O exemplo da Reva mostra que, quase três anos após o começo da crise financeira, o mercado nos EUA está pouco aberto a muitas empresas, levando-as a recorrer a investidores no exterior.
Quase uma em cada dez empresas americanas que lançaram ações no último ano fez tal operação fora dos EUA. Além da Austrália, elas se voltaram para mercados de ações como o do Reino Unido, de Taiwan, da Coreia do Sul e do Canadá, segundo a consultoria Grant Thornton e Dealogic.
As dez empresas que abriram o capital no exterior em 2010 -e 75 de 2000 a 2009- representam um aumento considerável em relação às duas companhias americanas que optaram pelo mesmo caminho entre os anos 1991 e 1999.
Uma variedade de fatores que explicam a decisão de uma empresa em optar por um mercado de fora, com destaque para o aumento dos custos de regulação de abertura de capital nos EUA. Os custos de um anúncio público em Taiwan vão de US$ 100 mil a US$ 300 mil por ano, contra US$ 2 milhões a US$ 3 milhões nos EUA.
Há preocupações de que algumas Bolsas atraiam empresas estrangeiras, pois a supervisão é muito menos exigente.
Sanjay Subhedar, diretor da Storm Ventures, uma empresa de venture capital da Califórnia, disse que investidores e bancos nos EUA que participam de ofertas públicas não estão mais interessados nas pequenas empresas.
Os investidores institucionais, como fundos de investimento, objetivam maiores ofertas com compradores e vendedores abundantes, disse ele; bancos desejam enfocar em taxas mais lucrativas que grandes negócios geram.
Uma das empresas nas quais investe, a Integrated Memory Logic (iML), localizada na Califórnia, se tornou, no ano passado, uma das primeiras empresas estrangeiras a entrar na lista da Bolsa de Valores de Taiwan. Fornecedora de chips semicondutores para monitores de LCD, ela levantou US$ 40 milhões com a venda de 10% da empresa após a Bolsa mudar as regras para permitir que estrangeiros fossem incluídos.
Algumas empresas americanas, como a HaloSource, de Seattle, estão descobrindo que os investidores nos EUA não estão tão interessados como os estrangeiros em empresas cujo potencial de crescimento é mais forte no exterior. HaloSource faz dispositivos de purificação de água para uso em piscinas americanas, além de tornar a água potável em países como Índia, China e Brasil. No ano passado, tinha US$ 80 milhões em oferta pública inicial no chamado "Mercado de Investimento Alternativo", em Londres. Uma razão que escolheu a capital britânica, de acordo com James Thompson, o diretor financeiro, foi que os investidores foram mais simpáticos no que se refere às oportunidades de crescimento em mercados emergentes.
Para a HaloSource, a mudança faz sentido a longo prazo, já que seu crescimento se afasta dos EUA para mercados emergentes como China e Índia.
Samsonite, empresa de bagagem fundada em Denver em 1910 que mudou sua posição corporativa para Luxemburgo em 2009, vê agora a maior parte do seu crescimento vindo da Ásia. Ela está planejando uma oferta de US$ 1,5 bilhão em Hong Kong na próxima semana. A atração pelo mercado asiático aumentará ainda neste mês, quando a Prada também listará suas ações em Hong Kong.
Enquanto algumas empresas americanas veem seu IPO estrangeiro como um movimento de longo prazo, outros o veem como um passo intermediário, que, após a expansão, poderia levá-los a buscar benefícios nos EUA.
Uma razão pela qual a Reva Médica escolheu a Austrália era por causa do sistema de hospitais de pesquisa. Mas Stockman disse preferia a Bolsa dos Estados Unidos em primeiro lugar. "Se tudo fosse igual, teria sido mais fácil nos EUA", disse ele. "Escolher uma Bolsa estrangeira representa um longo caminho pela frente."


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