São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

GE volta a fazer o que sabe: produtos

James Patterson para o New York Times
A fábrica da General Electric em Batesville (Mississippi), comandada por Jeanne Edwards, produz peças para motores de aviação e está sendo ampliada; a GE passou a dedicar maior atenção aos produtos físicos das suas divisões industriais

Por STEVE LOHR
A General Electric, talvez a empresa americana mais duramente atingida pela crise financeira fora do setor bancário, está gradualmente se recuperando, ao recorrer a um legado de inovação industrial que remonta a Thomas Edison e à lâmpada incandescente.
A GE Capital, divisão financeira da empresa e, por muito tempo, uma máquina de fazer dinheiro, virou um estorvo durante a crise. Ela agora está se remendando, mas a GE, insiste o executivo-chefe Jeffrey Immelt, precisa depender mais da fabricação de produtos físicos e menos da engenharia financeira.
Immelt fala de produtos pesos-pesados, que exigem paciência e muito dinheiro para serem desenvolvidos -motores para aviões, turbinas elétricas, locomotivas, usinas nucleares, sistemas de tratamento de água, painéis solares e moinhos de vento.
São mercados caros e complexos, onde poucos podem concorrer com a GE.
Ele cita como exemplo a produção de motores a jato, com margens de lucro e retorno sobre o capital superiores aos dos principais bancos. "Isso não acontece todo trimestre ou todo ano", diz. "Mas num período de dez ou 20 anos, os negócios difíceis de fazer tiveram os melhores retornos."
Sob o comando de Immelt, as vendas da GE no exterior saltaram de US$ 51 bilhões em 2001 para US$ 81 bilhões no ano passado.
Mas a empresa ficou aquém de algumas metas ainda mais ambiciosas, especialmente em mercados como Índia e China. Em julho, ele declarou em Roma, segundo o "Financial Times": "Realmente me preocupo com a China; não tenho certeza de que afinal eles desejem que algum de nós vença ou que algum de nós tenha sucesso".
A GE diz que as declarações foram tiradas do contexto e não representam a opinião da empresa. Indústrias tecnológicas de todo tipo, diz Immelt, precisam ser parte central da recuperação econômica americana.
"Muitos compraram a ideia de que a América poderia passar de uma potência baseada na tecnologia e orientada para as exportações para uma economia guiada pelos serviços e baseada no consumo -e que de alguma forma ainda poderia esperar prosperar", disse Immelt em 2009. "Essa ideia estava totalmente errada."
Immelt acompanha suas palavras com ações. Entre os planos anunciados nos últimos 18 meses está a expansão de uma nova fábrica de peças para turbinas de avião em Batesville (Mississippi), que deve criar mais de 4.000 empregos.
"O DNA subjacente da GE, que remonta há um século, tem sido investir para o crescimento na sua base tecnológica", disse Noel Tichy, professor de administração na Universidade de Michigan e ex-diretor da escola de gestão da GE em Crotonville, Nova York. "Então, ao aumentar os gastos em pesquisa e desenvolvimento e fazer investimentos na manufatura, Jeff Immelt está partindo 'de volta para o futuro' na GE."
Immelt diz que todo executivo que deseja mudar as coisas deveria se guiar por "um ponto de vista sobre o que está acontecendo no mundo e investir nesse ponto de vista".
Ele também prega um "empreendedorismo de grande escala" na GE. Isso significa identificar mudanças nos mercados e reunir recursos para capitalizar tal oportunidade.
Um modelo das mudanças de grande escala defendidas por Immelt é a campanha, lançada em 2005, para promover produtos mais eficientes do ponto de vista energético.
Quando a campanha começou, algumas pessoas, dentro e fora da GE, a viam como uma mera propaganda, e pesquisas internas mostravam pouco entusiasmo dos empregados por ela. Mas o impulso se formou gradualmente. Hoje, os produtos com o selo "ecoimagination" já venderam US$ 20 bilhões.
De vez em quando, Immelt dá uma ordem. Após uma viagem que fez em janeiro ao Brasil, ele se convenceu do avanço tecnológico do país.
De volta aos EUA, disse a Mark Little, supervisor de pesquisas da GE: "Ei, cara, você vai colocar um centro global de pesquisas no Brasil; escolha um bom lugar". No mês passado, a GE anunciou que esse centro será no Rio de Janeiro.
A liderança por decreto, quando feita com moderação, diz Immelt, pode gerar mudanças e estabelecer um rumo.
"Acho que, se você dirige uma grande companhia, é preciso quatro ou cinco vezes por ano dizer: 'Ei, equipe, olhe, é para cá que estamos indo'", afirmou ele. "Se você faz isso dez vezes, ninguém quer trabalhar para você. Se você não faz nenhuma vez, vira anarquia."
Apesar da crise financeira e da recessão econômica, os gastos com pesquisa e desenvolvimento chegaram, no ano passado, a US$ 3,3 bilhões e serão ainda mais altos neste ano.
"Vamos ser uma das empresas que sairão da crise mais fortes do que entraram", afirma Immelt.


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