São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2011

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Guitarras usada por famoso cobiçada

Piotr Redlinski para o New York Times
Guitarras usadas por Eric Clapton e leiloadas em Nova York; uma delas alcançou US$ 82,9 mil

Por JOHN TIERNEY
Por que alguém pagaria US$ 959,5 mil por uma guitarra usada -no caso, a Blackie, uma Fender Stratocaster que passou pelas mãos de Eric Clapton? E por que uma mera réplica dela alcançaria US$ 30,5 mil num recente leilão?
Os cientistas têm se feito essa pergunta, e uma de suas conclusões é que o anseio aparentemente ilógico por uma relíquia, mesmo uma pseudorrelíquia, deriva de um instinto crucial para sobreviver a desastres como a Peste Negra: a crença de que, para o bem ou para o mal, certas propriedades são contagiosas.
Outra conclusão é que o pensamento mágico registrado em tribos "primitivas" afetou os lances dados pelas guitarras de Clapton em 9 de março, num leilão beneficente da casa Bonhams, em Manhattan.
Os lances superaram as expectativas, e o leilão arrecadou US$ 2,15 milhões, sendo que uma guitarra, a Gibson 1948 L-5P, saiu por US$ 82,9 mil, mais de quatro vezes o esperado.
Quem faz os lances racionaliza as suas compras como investimentos ou como objetos que vale a pena possuir por causa das lembranças ou associações que evocam. Mas essas não parecem ser as principais razões.
Psicólogos da Universidade Yale perguntaram às pessoas o quanto elas gostariam de comprar objetos que haviam pertencido a diversas celebridades. O afeto das pessoas pela celebridade não correspondia ao valor atribuído ao objeto -a maior motivação para a compra não era pela associação considerada agradável.
Mas essas pessoas, tampouco, agiam pelo lucro, conforme pesquisadores descobriram ao avaliar o interesse dos compradores por algo que não pudesse ser revendido. O fator mais importante parecia ser o grau de "contágio da celebridade".
Os psicólogos descobriram que um suéter pertencente a um famoso se tornava mais valioso se as pessoas soubessem que a peça não havia sido lavada após ser usada pelo ídolo.
"Nossos resultados sugerem que o contato físico com uma celebridade aumenta o valor de um objeto, então as pessoas vão pagar mais por uma guitarra com a qual Eric Clapton tocou ou mesmo que tenha passado por suas mãos", disse Paul Bloom, um dos pesquisadores.
John Lastovicka, da Universidade Estadual do Arizona, disse que isso faz sentido do ponto de vista evolutivo.
"Crenças dos nossos antepassados a respeito do contágio, e especialmente do contágio biológico, são uma das razões pelas quais estamos aqui hoje", disse ele. "Quem não ficou afastado dos que morreram de peste na Idade das Trevas também morreu de peste e quem morreu de peste na Idade das Trevas provavelmente tem pouca ou nenhuma descendência atualmente."
O apelo da réplica da guitarra Blackie está relacionado a outra forma de pensamento mágico, chamada lei da similaridade: coisas parecidas têm poderes parecidos. Até mesmo uma réplica da guitarra produzida em escala, sem os arranhões da original, podem se tornar mágicas, segundo Lastovicka. Colecionadores entrevistados insistiram que essas réplicas tinham algo que lhes permitia tocar melhor.
Robert Ender, um guitarrista de Nova Jersey que foi ver de perto a mercadoria na Bonhams, afirmou: "Qualquer conexão com Eric agrega uma espécie de amuleto musical."


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