São Paulo, segunda-feira, 21 de setembro de 2009

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Um acesso sem glamour ao mundo da moda

Por ERIC WILSON

Há dez anos, quando Amy Astley, então diretora de beleza da "Vogue", começou a preparar o protótipo de uma versão da revista para adolescentes, a pergunta que potenciais leitoras mais lhe faziam era: "Como posso virar modelo?".
"Era realmente deprimente", disse Astley, atualmente editora da "Teen Vogue". Hoje em dia, perguntam como chegar ao cargo que ela ocupa.
O que mudou, disse Astley, é que os adolescentes de todo o mundo passaram a se interessar por qualquer tipo de carreira na moda devido ao espaço cada vez mais desproporcional que esse setor ocupa na cultura popular. O "Project Runway", reality show da TV para estilistas, originalmente ambientada na escola de design Parsons, em Nova York, bastou para provocar um aumento das matrículas nas escolas de moda. Na Parsons, as matrículas cresceram 41% nos últimos cinco anos.
Mas essa onda de estilistas e editores em treinamento surge num momento em que o setor está encolhendo; os varejistas estão quebrando; várias revistas dentro da Condé Nest, editora responsável pela "Teen Vogue", fecharam; e os empregos, de qualquer tipo, são escassos.
A situação não é inteiramente sombria para recém-formados em moda nos EUA, embora a Associação Nacional de Faculdades e Empregadores tenha dito em março que os patrões previam contratar 22% menos graduandos em 2009 para posições de começo de carreira.
Então, o que deve fazer um jovem que queira entrar no mundo da moda?
Tomemos como exemplo Sang A Im-Propp, que era uma pop-star na Coreia antes de decidir, durante uma viagem profissional a Nova York, que queria estar no mundo da moda. O inglês de Im-Propp era fraco, mas ela se matriculou na Parsons e logo se viu como estagiária de Victoria Bartlett, estilista famosa que ela admirava. Im-Propp achava difícil entender o carregado sotaque britânico de Bartlett e, em princípio, pensou que não havia compreendido bem o que Bartlett estava lhe pedindo. Comprar bolinhos?
Não bolinhos quaisquer, mas os confeitos com creme do Cupcake Cafe, que fica a uma longa caminhada do estúdio de Bartlett, e fazia muito frio lá fora.
"Isso me fez chorar muito", disse Im-Propp. "A Vicky é uma artista incrível, mas ela pode ser difícil."
Mas Im-Propp persistiu e, após muitas saídas para buscar bolinhos, foi agraciada com projetos de pesquisa, escolha de locações e coleções de compras que Bartlett não tinha tempo de ver. Quando decidiu, em 2006, lançar sua própria coleção de bolsas, sob a marca Sang A, Bartlett a recomendou pessoalmente a uma loja.
Bartlett admitiu que é mandona com seus estagiários. "Não se pode ser uma princesa nesse negócio", disse ela. "As pessoas veem a moda pelo resultado final, o que é uma espécie de fachada falsa. Elas só veem esse mundo bonito, glamouroso, mas não acho que percebam que é uma das carreiras mais duras que há por aí."
Kelly Cutrone, assessora de imprensa e personalidade frequente em reality shows, costuma iniciar entrevistas de emprego dizendo ao candidato: "Você terá sorte se começar e terminar sua carreira gostando de roupas".
Na atual leva de estagiários da "Teen Vogue", há pouco temor de que o futuro da moda aconteça sem a participação deles. Há histórias de jornadas de 12 horas vasculhando pilhas de sacolas de compras em busca de uma única saia, ou de bolhas de tanto levar sacolas com roupas pela cidade; ou da frustração de ser mandado à loja de um estilista famoso e só ver a caixa de correspondência. Ou da excitação, no caso de Media Brecher, 20, aluna do Barnard College, de ver na edição de agosto um título que ela sugeriu para um texto sobre jeans, "Bleach streak" ("traço alvejado").
"A verdade é que muitas portas estão fechadas agora, e ninguém vai abri-las", disse o estilista Phillip Lim, citando seu próprio começo como uma razão para não perder as esperanças. Como jovem vendedor na Barneys, em Los Angeles, era tão ingênuo que simplesmente pegou o telefone e ligou para o escritório do estilista Katayone Adeli pedindo emprego.
Astley disse: "Não ouça os outros. Se você quer trabalhar na moda, deve fazer isso".


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