São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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Presidente cantor é alvo de críticas na Indonésia

Por NORMITSU ONISHI

JACARTA, Indonésia - O presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, lançou há pouco tempo um novo álbum de música pop intitulado "I'm Sure I'll Get There" ("tenho certeza que chegarei lá"). O álbum -seu terceiro desde que Yudhoyono se tornou presidente- foi bem recebido, mas não conseguiu arrancá-lo de uma fase política ruim.
Saudado como reformador e líder anticorrupção, Yudhoyono foi reeleito em julho com vitória arrasadora, e seus índices de aprovação continuam altos. Mas alguns escândalos duradouros, além de o que seus críticos veem como sua atitude indecisa diante deles, estão começando a prejudicar sua popularidade.
Yudhoyono vem causando espécie não apenas por ser o primeiro líder em exercício da Indonésia a gravar álbuns de música, mas também por demonstrar aversão extrema às críticas. No início deste mês, depois de manifestantes o terem comparado a um búfalo, o presidente proibiu a presença de búfalos em manifestações públicas.
"O presidente está reagindo excessivamente aos acontecimentos que o cercam", opinou o cientista político Boni Hargens, da Universidade da Indonésia. "Em vez de tentar resolver problemas reais, parece estar procurando entreter o povo com sua música."
Em sua própria avaliação dos cem primeiros dias do segundo mandato de Yudhoyono, o governo anunciou recentemente ter cumprido quase todas suas metas e destacou o início de vários grandes projetos infraestruturais.
Enquanto parte da mídia deu crédito ao governo pelos projetos, a atenção pública também vem se voltando em grande medida a dois escândalos de corrupção. No primeiro deles, uma disputa de longa data entre a Comissão de Erradicação da Corrupção e a polícia nacional e o Ministério Público, surgiram evidências fortes de que policiais e promotores teriam tentado incriminar falsamente altos funcionários da comissão anticorrupção.
Mas ninguém foi indiciado até agora. O segundo escândalo gira em torno do socorro escuso prestado a um banco pequeno, Century, cujos investidores têm ligações com políticos.
O porta-voz do presidente, Julian Aldrin Pasha, disse que a mídia focou os escândalos de maneira injusta, ignorando os avanços feitos pelo governo.
"A mídia tem seus próprios interesses e motivações políticas", disse Pasha por telefone. "Ainda acreditamos estar no caminho certo no combate à corrupção, ao terrorismo e em outras questões."
Mas, segundo especialistas, em lugar de assumir uma postura firme contra a corrupção, Yudhoyono vem confundindo as coisas com suas falas públicas improvisadas. Em dezembro, o presidente declarou que a campanha anticorrupção fazia parte de um movimento para afastá-lo do poder. Com isso, surpreendeu a muitos na capital, onde os protestos políticos fazem parte do cotidiano.
O índice de aprovação do presidente sofreu queda de 15 pontos percentuais nos últimos seis meses, ficando em cerca de 75%, segundo um estudo Indo Barometer. Assim, as críticas positivas ao novo álbum do presidente foram vistas como boa notícia. Yudhoyono escreveu as letras e compôs as melodias das nove canções do álbum.
Embora o presidente não fuja de um microfone em situações públicas, ele não cantou no álbum, deixando isso a cargo de artistas indonésios famosos. Os temas das canções abrangem desde o político até o pessoal.
Na loja de música Aquarius, na zona sul de Jacarta, o álbum do presidente Yudhoyono não estava vendendo muito bem. Mas alguns clientes disseram que gostam da ideia de ter um presidente que periodicamente lança álbuns -ou, pelo menos, que não veem nada de errado nisso.
"S.B.Y. é a pessoa número um neste país e está lançando álbuns -é bacana", disse o músico Jon Ararya, líder de uma banda de pop-rock local. "Se ele é artístico, acho que isso quer dizer que é sensível e preocupado com as pessoas."


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