São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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"Gadgets" ficam espertos demais

Por KATIE HAFNER

O recente pré-lançamento do Apple iPad, um "tablet" que usa aplicativos do iPhone, já desencadeou o desenvolvimento de novos programas, como uma versão do software de desenho Brushes, do jogo de tiro Nova, e de um aplicativo da própria Apple chamado iBooks, que conecta o aparelho à livraria da marca.
Mas isso não significa que as pessoas irão alterar seus hábitos. Na verdade, os novos programas só as farão se sentirem um pouco mais sobrecarregadas. A próxima geração de usuários de "gadgets" pode provar o contrário, mas, por enquanto, está claro que as pessoas preferem ter menos escolhas e gravitam consistentemente na direção do mesmo pequeno número de coisas de que gostam.
Donos de iPhones não são diferentes dos assinantes de TV a cabo, que têm centenas de canais, mas acabam assistindo à mesma meia dúzia.
Quase vazio, o iPhone de Caroline Cua não se parece em nada com seu armário, onde ela mantém dezenas de pares de sapatos. Desde que ela comprou o aparelho, há quase um ano, Cua, 27, funcionária do setor de transportes em San Francisco, baixou somente cinco programas.
E, para ela, está bom assim, até que ela se veja entre amigos cujos iPhones estão repletos de ícones. Quando um outro dono de iPhone recentemente pediu para ver seus aplicativos, ela se conscientizou: "Eu disse a ele: 'Ok, agora me sinto oficialmente uma perdedora'", lembrou ela.
Cua não é a exceção, e sim a regra. O proprietário médio do iPhone ou do iPod Touch usa regularmente de 5 a 10 aplicativos, segundo a empresa de pesquisas Flurry. Há cerca de 140 mil aplicativos já disponíveis.
Então, para cada zeloso proprietário cujo iPhone está carregado com desconhecidos programas que preveem o sobrevoo de asteroides, há muitas outras Carolines Cuas, que raramente se aventuram além do previsível. A maioria se diz ocupada demais, preguiçosa demais ou simplesmente aturdida por tantas escolhas.
"Acho que eu deveria querer mais do que tenho", disse Julie Graham, psicoterapeuta de San Francisco, ecoando a vaga ansiedade de Cua. "Há esta sensação de que estou perdendo algo que eu não sabia que precisava."
Graham, 50, disse que seus amigos ficaram chocados quando ela confessou que não havia baixado o Urbanspoon, um compêndio de resenhas gastronômicas. Ela agora tem -e raramente usa. "Não tenho tempo", disse.
Desde que os aplicativos do iPhone surgiram, em 2008, rivais como Palm, Microsoft, Google e Research in Motion correram para montar seus próprios catálogos de aplicativos móveis.
Uma pesquisa com usuários de iPhones, iPods Touch e Androids, feita em julho de 2009 pela rede de publicitários AdMob, concluiu que, em geral, as pessoas descobrem os programas vasculhando as lojas de aplicativos. E, embora a loja iTunes esteja abarrotada de ofertas, as pessoas tendem a gravitar para as mais populares.
"Para todas as dezenas de milhares de aplicativos por aí, as chances de serem expostos a mais do que mil [usuários] é muito pequena", disse Stewart Putney, fundador e executivo-chefe da Moblyng, empresa da Califórnia que desenvolve aplicativos para celulares. "Os principais aplicativos apresentados na loja de fato têm sucesso.
Mas a maioria dos usuários nunca verá mais do que 1% do total de aplicativos disponível." Um estudo de 2009 da Pinch Media mostrou que a maioria das pessoas para de usar os aplicativos rapidamente, especialmente quando são gratuitos. E 3 em cada 4 aplicativos baixados são gratuitos, embora analistas digam que a Apple e seus desenvolvedores faturem US$ 1 bilhão por ano vendendo aplicativos (a Apple não confirma os números).
Jon Lebkowsky, 60, dono de uma empresa de tecnologia no Texas, tem dúzias de aplicativos no seu celular, mas usa poucos. Descobriu alguns vendo amigos usarem; outros ele encontrou na loja. "Sou budista, então busquei 'budismo' e 'Buda' para ver o que achava. Achei um aplicativo legal de meditação e um conjunto dos escritos de Buda."
Alguns aplicativos se tornam o equivalente eletrônico da "comfort food". Cua disse que suas inclinações sociais foram atendidas por um game chamado Words With Friends ("palavras com amigos"), uma espécie de palavras cruzadas. A atriz Dana Delany tem o mesmo jogo, que ela diz ser praticado por algumas pessoas interessadas em palavras durante as gravações de "Desperate Housewives".
"Interesses pessoais guiam o que interessa [às pessoas]", disse Peter Farago, vice-presidente de marketing da Flurry. "Mas as pessoas nem sempre encontram as coisas que lhes interessam."


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