São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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Ônibus leva turista a gangues de LA

Por RANDAL C. ARCHIBOLD

LOS ANGELES - O organizador da excursão diz receber de quatro gangues a garantia de que a passagem do ônibus não será perturbada. Os clientes devem assinar notificações sobre os riscos. E, após cuidadosa consideração, decidiu-se que os moradores não deveriam disparar pistolas de água contra o ônibus e que não seriam vendidas camisetas dizendo "Fui alvejado no South Central".
Inspirando-se um pouco nos tours de Hollywood, os passeios da LA Gang Tours duram duas horas e fazem 12 paradas ao longo daquilo que os organizadores chamam de "a história e a origem das áreas de gangues importantes e os principais cenários de crimes" no sul de Los Angeles.
À direita, a maior prisão de Los Angeles, "lar extraoficial de 20 mil membros de gangues em LA", como diz o site do tour. Logo ali, a delegacia que em 1965 serviu de posto de comando da Guarda Nacional durante os distúrbios de Watts. Visite o leito fluvial de concreto dominado por grafiteiros e, mais tarde, pare numa oficina de grafite onde, por um preço justo, uma camiseta ou pintura pode ser sua.
Alfred Lomas, 45, ex-membro de gangue e criador do tour (que custa US$ 65, almoço incluído), diz que esse passeio educa as pessoas sobre a vida urbana, além de gerar renda para microcrédito e outras iniciativas destinadas a dar emprego para os integrantes das gangues.
Mas, para além dos desafios logísticos próprios -o termo de responsabilidade descreve o tour como "inerentemente perigoso" e alerta para o risco de morte-, o empreendimento tem causado polêmica sobre sua pertinência.
"Todo o mundo diz que somos a capital mundial das gangues, e certamente é verdade", disse o reverendo Gregory Boyle, que há décadas lida com a questão. "É difícil encobrir isso. Mas há dois extremos que sempre precisamos evitar: um é demonizar o membro da gangue, e o outro extremo é romantizar a gangue."
Outros temem que o tour, que inicialmente era mensal, evoque passeios em favelas e áreas miseráveis do Rio de Janeiro ou Soweto (África do Sul), que deixam o turista perto da miséria, mas não perto demais, com benefícios questionáveis. Já os simpatizantes de Lomas dizem que o tour conscientiza sobre as necessidades em comunidades carentes.
Lomas abandonou os planos iniciais de atravessar dois projetos habitacionais, numa concessão, segundo ele, a críticos que achavam que isso seria insensível. Para alguns, não é surpresa que, numa cidade conhecida por ter mais gangues de rua do que qualquer outra dos EUA e também por sua estreita associação com parques temáticos, alguém tenha aparecido para aproveitar o potencial turístico da cultura de gangues.
"Qual é!? Comercialize o que você tem", disse Celeste Fremon, que escreve o blog sobre justiça penal Witness L.A.. Embora Fremon tenha contestado que vários locais citados possuam uma sólida associação com gangues, ela afirmou: "Se isso dá dinheiro para uma boa causa, mais poder para eles!".


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